As virtudes que possivelmente emergem de O Último Animal (2023), dirigido pelo português Leonel Vieira, são virtudes, no mínimo, impessoais – isso porque, praticamente, tudo observado no longa é derivado de elementos já reiterados em obras que adentram no submundo do crime brasileiro.
Assemelhando-se mais como uma obra para televisão do que para o cinema, acompanhamos a colisão, tratada pelo cineasta europeu, entre a periferia da favela carioca, representada pelo jovem Didi, com a burguesia miliciana. Por sua vez, e como não poderia deixar de ser, esse embate é nitidamente prejudicado quando sua perspectiva estrangeira paira sob os conflitos. E pois bem, para o diretor, sempre foi “um sonho” dirigir um filme brasileiro que tratasse dessa temática.
E não que este fato necessariamente peça por uma denotação negativa. As temáticas não devem restringir o debate apenas as partes que se identificam, ou pelo contrário, justamente não haveria debate e a possibilidade de progresso social. Todavia, deve-se manter o mínimo bom senso para que se evite um deslocamento e até uma superficialidade estereotipada.
Menos mal que o roteiro de Ernesto Solis e Leonardo Gudel – sendo este último um estudioso da corrompida PM do Rio – conseguem atender aos requisitos de um filme de máfia corriqueiramente modesto: diversos personagens (alguns até marcantes) numa cadeia de acontecimentos e traições que prendem o mínimo da atenção, adotando, desta vez, o Jogo do Bicho como teia central. Todavia, tudo isso à título de Tela Quente, infelizmente.
Espelhando-se completamente no Tropa de Elite, diversas pitadas de tom piegas devem ser relevadas pelo espectador para que O Último Animal não soe mais ultrapassado do que já é. A senso de direção, temos o de sempre: câmera tremida em tiroteios entre as vielas dos morros cariocas – esta parece a única forma de filmar ação dentro das comunidades. E parece que toda a preparação do diretor baseia-se no suco da mesmice. E para ilustrar com chave de ouro, temos sim, aqui, a velha e (apenas velha) narração em off, apropriada do já citado filme do José Padilha.
Embora nada inovador, o filme possui esforços inegáveis, e promove pelo menos alguma reflexão de realidade que vivemos, imergindo o espectador para uma trama que é lúcida, ademais de seus inúmeros clichês e posição cinematográfica ultrapassada.
Filme: O Último Animal |