Recentemente, o ator Paul Giamatti e a atriz Da’Vine Joy Randolph, ambos do filme Os Rejeitados (The Holdovers, 2023) receberam os prêmios de melhor ator e atriz coadjuvante na 81ª edição do Globo de Ouro. O filme, que teve sua estreia nos cinemas norte-americanos em outubro de 2023, chega às salas brasileiras nesta quinta-feira, dia 11 de janeiro.
Com uma narrativa focada, primordialmente, em três personagens, o longa-metragem dirigido por Alexander Payne (Sideways, 2004; Nebraska, 2013) e escrito pelo estreante David Hemingson, ambienta-se no final do ano de 1970 e explora os desdobramentos da relação entre um aluno problemático, seu professor rabugento e a cozinheira enlutada do colégio interno que “abriga” estes três personagens durante o recesso das festas de fim de ano.
Uma das primeiras coisas a se mencionar sobre este filme é que, nem de longe, ele possui uma narrativa das mais originais, porém, isso não significa exatamente que sua execução não foi bem-sucedida. Na verdade, há diversos pontos positivos na abordagem escolhida para se discutir os problemas dos personagens apresentados na obra.
Como qualquer filme ambientado em uma escola, encontramos aqui, logo em seu início, aqueles personagens típicos desse tipo de representação. Em Os Rejeitados há o plus de o filme se situar em uma escola somente de garotos, portanto, o desgosto das piadas principalmente de cunho sexual está muito bem inserido nos primeiros minutos do longa. Devo dizer que esta primeira parte não é o destaque do trabalho de Payne. Por sorte, o foco de sua narrativa logo é posto em cena e os excedentes são cortados, fazendo a forma de Os Rejeitados começar a aparecer.
O protagonista Angus Tully, interpretado por Dominic Sessa, rosto novo em Hollywood, à primeira vista, é um jovem rico e problemático, porém inteligente, que está se gabando para seus colegas de classe sobre sua viagem no final de ano, até receber a notícia de que sua mãe não irá buscá-lo e que ele terá de ficar com os outros rejeitados no colégio. Para piorar a situação, o professor encarregado de ser a babá dos garotos, é aquele que todos odeiam, Hunham, interpretado por Paul Giamatti (Sideways, 2004).
Como disse antes, não há muita originalidade nesse roteiro. A fórmula aluno espertinho X professor rabugento está bastante evidente durante grande parte do filme, porém a direção em que os acontecimentos vão se desenhando e se concretizando é gratificantemente satisfatória. Não direi que ele foge aos clichês do gênero, porém, algo em sua essência lhe torna uma experiência agradável de se acompanhar e até emociona em alguns momentos.
O apelo dos personagens está em não transformar nenhum deles em vítimas. Todos ali estão passando por grandes problemas, e ainda seguem seus caminhos porque a vida não para. Não há, também, um “herói” em Os Rejeitados e esse é um dos pontos mais altos de sua narrativa. O professor ranzinza de Paul Giamatti é maravilhosamente escrito e sua interpretação está no mesmo nível. Sua aparência desprezível aos olhos dos alunos e personalidade mesquinha e rígida são tão naturalmente exploradas que conseguimos simpatizar com o personagem apesar de todos os seus “defeitos”.
Em contraponto aos dois homens um tanto quanto desprezíveis, a cozinheira do colégio Mary (Da’Vine Joy Randolph, Gato de Botas 2: O Último Desejo, 2022) é dotada de uma personalidade completamente oposta, embora esteja, também, passando por momentos bastante obscuros. Mesmo que sua vida tenha perdido, de certa forma, o rumo, essa mulher não desaba completamente e segue em frente. O mais gratificante de assistir a essa personagem é o fato dela não ser o alívio cômico do filme ou pregar conselhos vazios sobre como a vida é bela apesar de tudo e outros clichês.
Talvez o ponto chave de Os Rejeitados esteja justamente nisso. Há, é claro, alguma positividade em seu roteiro, porém, sua abordagem é sutil, portanto, soa mais natural. Como dito antes, não há heróis neste filme, ainda que suas ações estejam quase fora da realidade em alguns momentos. A construção e desenvolvimento desses personagens é feita em escalada e, à medida em que os conhecemos melhor, entendemos e até aceitamos algumas de suas atitudes.
Uma característica importante do longa-metragem é que ele se passa durante as festividades de fim de ano, então, podemos dizer que ele é um filme de Natal. Mesmo nesse ponto, ele foge ao clichê. Há toda a neve e uma árvore capenga, porém, a representação dessa data festiva está muito mais focada no vínculo improvável formado pelos três personagens que foram, basicamente, forçados a passar esses dias juntos.
Um destaque importante a se fazer, também, é sobre a trilha sonora de Os Rejeitados. As músicas escolhidas, geralmente todas dentro de um mesmo gênero musical, caíram perfeitamente às imagens criadas pelo cenário e atores do filme. As letras das canções condiziam aos acontecimentos, criando assim uma experiência completa em termos de imersão à narrativa.
O final do filme foi, talvez, minha parte favorita. Dotado de drama na medida certa, foi um fim agridoce e condizente à atitude dos personagens durante toda a extensão da obra. Vale lembrar mais uma vez da atuação de Giamatti, que brilhou fortemente junto de Dominic Sessa, que revelou um grande potencial para seu futuro na atuação. Por fim, posso dizer que Os Rejeitados foi uma grata surpresa e que espero vê-lo mais durante a temporada de premiações.
Filme: The Holdovers (Os Rejeitados) Elenco: Paul Giamatti, Dominic Sessa, Da’Vine Joy Randolph, Carrie Preston, Brady Hepner, Jin Kaplan, Ian Dolley, Michael Provost, Naheem Garcia, Stephen Thorne, Andrew Garman, Gillian Vigman, Tate Donovan. Direção: Alexander Payne Roteiro: David Hemingson Produção: EUA Ano: 2023 Gênero: Comédia, Drama Sinopse: Os Rejeitados acompanha a desventura de um professor mal-humorado de uma prestigiada escola americana, forçado a permanecer no campus para cuidar do grupo de alunos que não tem para onde ir durante as férias de Natal. Ele acaba criando um vínculo improvável com um deles – um encrenqueiro magoado e muito inteligente – e com a cozinheira-chefe da escola, que acaba de perder um filho no Vietnã. Classificação: 16 anos Distribuidor: Universal Pictures Brasil Streaming: Indisponível Nota: 7,6 |