CRÍTICA – POBRES CRIATURAS

CRÍTICA – POBRES CRIATURAS

Pobres Criaturas (2023), dirigido por Yorgos Lanthimos, traz o espectador as vidas de Bellas Baxter (Emma Stone) e do doutor Godwin Baxter (Willem Dafoe). Quando o Godwin encontra o corpo de Bella à beira de um rio, uma ideia é óbvia para ele. Reanimar o corpo, é claro! Entretanto, Bella não retorna à vida como ela era, mas com uma idade mental de um recém-nascido. Dessa maneira, acompanhamos o desbravamento do mundo sob a ótica de um bebê no corpo de um adulto.

Pobres Criaturas e Frankenstein

Não é nenhum mistério a semelhança do filme de Yorgos Lanthimos com Frankenstein, livro escrito por Mary Shelley e publicado em 1818. O livro conta a história do doutor Victor Frankenstein e de seu experimento. Victor decide tentar a reanimação de tecidos mortos para gerar uma nova vida. Assim, surge sua criatura. Um monstro humanóide.

Não é difícil notar semelhanças com Pobres Criaturas (Lanthimos, 2023). Embora Pobres Criaturas (Lanthimos, 2023) seja uma adaptação de outro livro — obra homônima de Alasdair Gray, publicada em 1992. O livro de Alasdair tem sua inspiração na obra de Shelley. Logo, a aproximação narrativa não é nada menos do que o esperado.

Pedaços de filmes para formar um filme

Entretanto, parece que Yorgos aproveita dessa aproximação e estende-a para além da trama. Desse modo, o diretor exerce essa semelhança na forma do próprio filme. Uma tentativa de transformar a obra em uma criatura. 

Em outras palavras, se a criatura de Frankenstein era um retalho, feito com tecidos picotados de várias pessoas, o filme de Yorgos soa como um retalho formal. Desse modo, o diretor emprega diversas misturas experimentais na maneira como faz seu filme, para formar uma única obra. Isto é bem evidente, por exemplo, nas escolhas de lentes. 

Ora Pobres Criaturas (Lanthimos, 2023) utiliza uma lente Olho de Peixe — lente arredondada que distorce o ambiente em círculo, semelhante à vista por um olho mágico em uma porta. Ora uma lente Grande Angular — com uma distância focal menor, amplia o ambiente mostrado. Em alguns momentos recorre a planos fechados e claustrofóbicos, em outros planos abertos e expansivos. Dessa maneira, o diretor faz essa colcha de retalhos de experiências visuais que vai se unificando em uma só criatura.

A infantilidade de Pobres Criaturas

Sob o mesmo ponto de vida, outros experimentos visuais, menos técnicos, são utilizados. Como, por exemplo, certa estilização dos ambientes que ocorre em algumas áreas exteriores. Quando Bella Baxter se encontra em algum ambiente externo, usualmente os detalhes desse ambientes são caricatos, estilizados, extraordinários. Tal como o céu, quase sempre exageradamente colorido, fora do que temos em nosso mundo. Semelhantemente, algumas dessas distorções chegam até a relembrar de aspectos do Expressionismo Alemão — movimento artístico alemão, muito forte no cinema na década de 20.

Assim sendo, tais momentos podem ser observados de duas maneiras diferentes, mas harmoniosas. Tal estilização visual se enquadra bem no conjunto de técnicas diversas empregadas pelo diretor, como também em um certo reforçamento de uma visão infantil e deslumbrante do mundo ao redor. Dessa maneira, o universo ao redor de Bella pode ser visto como uma criança o veria. 

Confusão proposital

Pobres Criaturas (Lanthimos, 2023) também reside em uma espécie de vórtice temporal. Um amálgama de elementos e detalhes que poderiam pertencer à momentos diferentes do nosso mundo. Dessa forma, o diretor provoca certa confusão quanto à localização do tempo do filme. Conforme, uma fragmentação de anacronismos que funciona tanto para confundir, quanto para criar algo único. 

Até mesmo a divisão da narrativa por capítulos dá mais força para essa questão. Similarmente, a mistura de gêneros também. Pobres Criaturas (Lanthimos, 2023) é uma comédia muito boa. Mas também uma ficção-científica. Um coming-of-age, talvez? Drama, sem dúvida. Uma pitada de terror aqui. Uma ponta de discurso social acolá.

O filme-monstro de Frankenstein

Reforçando assim toda a semelhança da obra com o livro de Shelley, um conjunto de diversidades que age de acordo para criar algo novo e vivo. Divisões, retalhos, picotes, tudo em um só. Yorgos constrói paralelamente um filme sobre a criatura de Frankenstein, quanto um filme que é a própria criatura.

Pôster do filme "Pobres Criaturas", de Yorgos Lanthimos. Filme: Poor Things (Pobres Criaturas)
Elenco: Emma Stone, Mark Ruffalo, Willem Dafoe, Ramy Youssef, Kathryn Hunter, Vicki Pepperdine, Christopher Abbott, Hanna Schygulla
Direção: Yorgos Lanthimos
Roteiro: Tony McNamara, Alasdair Gray
Produção: EUA, Irlanda, Reino Unido
Ano: 2023
Gênero: Comédia, Ficção Científica
Sinopse: Quando Dr. Godwin Baxter encontra um corpo a beira de um rio, ele decide tentar reanima-lo. Assim, nasce Bella Baxter. Um corpo de adulto, uma cabeça de recém-nascido.
Classificação: 18 anos
Distribuidor: Searchlight Pictures
Streaming: Indisponível
Nota: 7,0

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