CRÍTICA – HOMEM-FORMIGA E A VESPA: QUANTUMANIA

CRÍTICA – HOMEM-FORMIGA E A VESPA: QUANTUMANIA

O Homem-Formiga estreou na Marvel de maneira surpreendente se pensarmos nos contextos em que os dois primeiros filmes se situam na linha do tempo do Universo Cinematográfico Marvel (UCM). Homem-Formiga, o longa original, foi o responsável por “fechar” a Fase 2 depois de Vingadores: A Era de Ultron e o segundo — intitulado de Homem Formiga e a Vespa — depois de praticamente quase todos os Vingadores terem virado pó em Guerra Infinita. Como se os seus filmes fossem utilizados para dar um respiro para a audiência a partir de uma história leve e simples, quase que auto-contida neste universo megalomaníaco de grandes eventos e consequências. E assim, os filmes do herói se estabeleceram quase como “independentes” (entre várias aspas) da Marvel por conta dessas narrativas minimalistas.

O primeiro filme, dirigido por Peyton Reed (Sim, Senhor) e escrito a quatro mãos por Joe Cornish (As Aventuras de Tintin), Adam McKay (Não Olhe Para Cima) Edgar Wright (Todo Mundo Quase Morto) e Paul Rudd, também protagonista, foi uma baita surpresa para audiência ao utilizar muito bem o poder de diminuir de tamanho do herói para trazer sequências inventivas de ação e como recurso cômico. A sua continuação, por sua vez, não tem o mesmo requinte que o antecessor, mas diverte sem se levar a sério. 

Posto isso, já fica notável como Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania se diferencia. O terceiro filme do pequeno grande herói chega às salas de cinema de todo o mundo cheio de pompa: com a responsabilidade de ser um fechamento de trilogia, de abrir a Fase 5 e apresentar Kang, O Conquistador (Jonathan Majors) pela primeira vez como antagonista. Uma missão ousada para se colocar nas costas do personagem de Rudd.

E tudo parecia caminhar bem quando Quantumania se inicia. Onde acompanhamos Scott Lang (Rudd) aproveitando a sua fama, após ter papel fundamental em salvar o mundo como um Vingador de verdade. Ele passa a ser reconhecido (em partes) na rua e a tirar fotos com cachorrinhos (não julgo, pois se encontrasse Paul Rudd também pediria para ele tirar foto com o meu). Logo de cara observamos alguns dilemas e conflitos entre ele e Cassie (Kathryn Newton), que se torna rebelde e frustrada com o seu pai ausente, cuja atenção se divide entre ela, o estrelato (ele até lançou um livro) e o namoro com Hope (Evangeline Lilly).

O roteiro do primeiro ato também aproveita para situar onde está cada um dos outros personagens e como eles se relacionam enquanto uma família disfuncional. Colocar na mesa esses temas, atrelados a iminência de uma aventura multiversal, é uma boa sacada do roteiro, pois a trilogia do Homem-Formiga sempre girou em torno de questões familiares dos Lang-Pym-Van Dyne.

É a partir de uma reunião de família, por sinal, que a aventura começa. Quando Cassie apresenta para os familiares a sua invenção: uma espécie de satélite que permite explorar o Reino Quântico sem precisar entrar lá novamente. O problema é que Janet (Michelle Pfeiffer) não contou tudo o que viu nos últimos 30 anos terrestres lá embaixo e, por conta disso, Kang utiliza o tal satélite como canal para levar os heróis de volta para este universo que prometeram nunca mais entrar.

Aqui, a trama se divide em dois núcleos. Um com Scott e Cassie, ao lado de um grupo de revolucionários, onde exploram as dinâmicas de pai e filha e outro com Hank (Michael Douglas), Janet e Hope, com o intuito de trabalhar a relação recém abalada do trio após descobrirem que a mãe guardava segredos a respeito do lugar. Essa divisão é primordial pois nos permite explorar melhor os conflitos entre os personagens e mais do Reino Quântico, onde, vale destacar, materializado com muita personalidade e identidade própria, diferente das referências do lado cósmico da Marvel e da Dimensão Espelhada. A partir de um ótimo trabalho de efeitos especiais, bem melhores daqueles apresentados em muitos projetos da Fase 4 como Thor: Amor & Trovão e Viúva Negra, por exemplo.

A narrativa, assim como todo o visual de Quantumania se inspira bastante em Star Wars. Desde Thor: Ragnarok e Guardiões da Galáxia não via a Marvel abraçando o sci-fi desta forma. E digo mais, Quantumania foi até mais além do que estes dois no quesito criação de mundo, tanto que Kang e todo seu império carregam referências diretas a Darth Vader.

Era de se esperar que o núcleo de heróis, em seu terceiro filme, estaria cada vez mais confortável, mas é Jonathan Majors que se destaca — mesmo com falas e analogias repetitivas sobre o tempo; para quem esperava linhas de diálogo mais reflexivas e impactantes como as de Thanos, pode esquecer, ao menos por enquanto. O impacto está na forma como o ator encarna essa figura ameaçadora — alá Vader — e manipuladora do grande vilão da Saga do Infinito, em sua variante mais emblemática dos quadrinhos, materializada fielmente das HQs para as telas. Além disso, o personagem é imbuído de uma história de fundo com substância, que envolve exílio, perdas, destruições de universos inteiros e morte de Vingadores. Ou seja, logo se estabelece o seu nível de poder e ameaça que Homem-Formiga, o herói mais “fraco” da Marvel, precisa enfrentar. Agora, será que ele consegue?

Infelizmente, o roteiro de Jeff Loveness — já escalado para escrever Dinastia Kang — parece não se inspirar nos episódios IV, V e VI, e está mais para VII, VIII e IX. Pois depois de um primeiro e segundo ato empolgantes, que trabalham muito bem a ameaça de Kang, o terceiro vai ladeira abaixo pela quantidade de conveniências narrativas que exigem uma suspensão de descrença gigantesca para fazer sentido, até mesmo para um filme de fantasia. As problemáticas postas em torno do embate entre os dois é resolvida sem criatividade alguma, a partir de um Deus Ex Machina incoerente com tudo que foi estabelecido a respeito de Kang. Direcionando o olhar para este filme como uma unidade, parece que arrumaram um problema do tamanho do Multiverso para resolver nos filmes seguintes.

Por fim, o último ato de Quantumania mostra a Marvel no piloto automático e sem saber o que fazer com a história que foi desenvolvida até determinado ponto; nem mesmo Peyton Reed, que dirigiu os dois primeiros filmes com certa autenticidade, escapa dessa crítica. É como se Quantumania estivesse sido, de fato, guiada por uma Inteligência Artificial (em referência a She-Hulk). Isento de qualquer calor humano ou coração capazes de conduzir as jornadas dos protagonistas com mais emoção e por campos menos confortáveis, sem medo de perdas e consequências definitivas. Tanto que o terceiro longa do Homem-Formiga termina praticamente da mesma forma que começou, levando os seus personagens numa aventura que leva nada a lugar algum com apenas uma passagem pelo Reino Quântico. Em suma, um desfecho sem coragem e ousadia para o filme que recebia a alcunha de “o mais importante da Fase 5”.


poster_homem-formiga-e-a-vespa-quantumania Filme: Ant-Man and Wasp: Quantumania (Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania)
Elenco: Paul Rudd, Evangeline Lilly, Jonathan Majors, Michael Douglas, Michelle Pfeiffer, Kathryn Newton, Corey Stoll, Bill Murray, William Jackson Harper e Katy O’Brian
Diretor: Peyton Reed
Roteiro: Jeff Loveness
Produção: Estados Unidos
Ano: 2023
Gênero: Fantasia | Comédia | Ficção Científica
Sinopse: Scott Lang lida com as consequências de suas escolhas tanto como super-herói quanto como pai. Enquanto tenta reequilibrar sua vida com suas responsabilidades como o Homem-Formiga, ele é confrontado por Hope van Dyne e Dr. Hank Pym com uma nova missão urgente. Scott deve mais uma vez vestir o uniforme e aprender a lutar ao lado da Vespa, trabalhando em conjunto para descobrir segredos do passado.
Classificação: 12 anos
Distribuição: Walt Disney 
Streaming: Indisponível
Nota: 4,5

 

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