MORBIUS

MORBIUS

Morbius, novo filme da Marvel em conjunto com a Sony, dirigido por Daniel Espinosa (Protegendo Inimigos e Vida), finalmente chegou aos cinemas. Depois de uma verdadeira novela por conta dos inúmeros adiamentos, o vilão do universo do Homem-Aranha, enfim, ganhará as telonas. De 2020 (previsão inicial de estreia) para cá, muita coisa foi especulada, muitas dúvidas foram criadas, mas a expectativa em torno do filme foi minando cada vez mais.

O longa, que conta com um pouco mais de 100 minutos, corre contra o tempo para conseguir apresentar seus personagens e desenvolver, minimamente, toda a trama proposta pelo roteiro de Matt Sazama e Burk Sharpless. Uma tarefa árdua e que precisará contar com a cumplicidade do espectador para que este aceite certas escolhas duvidosas que são jogadas aqui, como a elipse que existe sem sequer sabermos como, principalmente, o personagem Milo (Matt Smith) se manteve vivo por tanto tempo. O roteiro é, sem dúvidas, o grande vilão do filme. Desde de que foi noticiada a produção de Morbius, começaram as perguntas sobre onde e se esse filme se encaixaria no MCU. Com alguns detalhes como uma referência a Venon, por exemplo, podemos pensar na existência deste personagem naquele universo, entretanto com a presença do Abutre (Michael Keaton), o inimigo do Homem-Aranha em “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”, tudo volta a se embaralhar. O curioso é que o filme todo se estabelece por criar mais perguntas do que respostas.

Para alguns pode parecer que o filme é bem dinâmico, temos sempre a sensação de que algo está acontecendo, além de não haver, aqui, aqueles momentos que necessitam de uma certa cadência na tentativa de evidenciar um drama vivido por algum personagem. Mas a verdade é que existe uma grande pressa em apresentar os conflitos e solucioná-los, como na cena em que vemos Milo entrando em uma casa de show e saindo logo depois. O acontecimento ali servirá, apenas, para a polícia saber quem está por trás dos crimes que andam acontecendo na cidade. A lógica não passa nem perto dessa cena em questão, pois já havíamos visto o mesmo personagem sendo bastante cauteloso para agora nem se dar conta das câmeras que o filmaram. Tudo é feito para que o filme consiga avançar sem a necessidade de se alongar muito.

Além disso é preocupante uma direção que tenta usar sinais para certas composições, mas que esbarram em uma desconexão com cenas posteriores colocando tudo a perder. No inicio do filme somos apresentados ao Dr. Morbius (Jared Leto), debilitado e com duas muletas, entrando em uma gruta na Costa Rica para capturar morcegos (objeto de seus experimentos). Logo após esta cena, voltamos 25 anos, na Grécia, e vemos um garoto, Lucien, que chega, também portando duas muletas, em uma espécie de clínica, comandada pelo Dr. Emil Nikols (Jared Harris), mas para nossa surpresa aquela criança não é o Morbius e sim, seu melhor amigo, quase um irmão, Milo. Não só as muletas, mas também os olhos profundos nos levam a crer, antes que sejamos apresentados aos nomes dos garotos, que Lucien/Milo seria Morbius, algo que logo é posto como um equívoco nosso, equívoco pelo qual fomos forçados a acreditar pelos acenos da direção.

Embora tudo nesta obra careça de profundidade, é no laço construído, de forma genuína, entre Michael Morbius e Lucien/Milo, que está o principal e talvez, o único, acerto do filme. Dois garotos que compartilham de um mesmo futuro. Vivem olhando para uma ampulheta que, violentamente, indica que seus dias estão contados. Estes personagens adultos ainda sustentam aquele zelo que tinham um pelo outro. Nesse sentido é completamente eficaz os objetivos que cada um deles tem e em como isso trará um grande choque na convivência. Se este relacionamento é bem trabalhado nas duas fases que o longa se predispõe a mostrar, o mesmo não se pode afirmar sobre o relacionamento de Morbius e Martine (Adria Arjona). Sabemos que existe algo entre eles, pois os movimentos dela e seus olhares indicam de forma clara que ali há muito mais do que uma relação de trabalho. Contudo o diretor, mais uma vez, não está confortável em fazer o mínimo e, por isso, usa alguns minutos para discussões sobre romances e amores, preparando o público, de forma bastante expositiva e desnecessária, para uma aproximação mais à frente. Mas não antes de, simplesmente, ignorar o fato de que a revelação deste novo ser, no qual o Michael Morbius se transformou, poderia soar como uma aberração para ela.

A carência de criatividade se mostra nos mais diversos elementos do filme. Os efeitos visuais não são inovadores e muito menos surpreendentes, no entanto não chegam a prejudicar, consideravelmente, a obra. Espinosa incluiu, aqui, algo similar ao já conhecido Bullet Time, faz uso, também, de muita câmera lenta nas três ou quatro cenas de luta que existem no filme e os movimentos de Morbius lembram muito os de outro personagem da Marvel, o Netuno.

Os poderes de Morbius são subaproveitados e aqueles apresentados são pouco explorados. Tudo está focado em um dos sentidos que absorveu dos morcegos, chamado ecolocalização. Dentro da narrativa e pela falta de tempo, o uso desse sentido confere que a busca por algo ou alguém se torne extremamente rápida, abdicando assim daqueles momentos longos em que um personagem se vê procurando uma agulha no palheiro. O grande problema aqui, é que tudo isso é assimilado de forma consciente e sem a menor surpresa ou espanto. Mas vale lembrar que o experimento que Dr. Morbius conduzia tinha o objetivo de fazer com que ele se mantivesse vivo. A adição de poderes nesta equação, como a super força e até mesmo o poder de voar, parece não ter causado nenhum espanto no protagonista que a poucos minutos mal ficava de pé sem a ajuda de suas muletas.

Morbius, definitivamente, não se mostra sólido o bastante. Foram erros que custaram caro para a apresentação do personagem. A escalação de Jared Leto vai causar certa resistência, mas eu, particularmente, gosto da sua atuação. Se ultimamente o ator não tem conseguido escolher bons trabalhos, ele tem neste personagem uma boa fonte para explorar. Uma pena que, nesse primeiro filme, tudo tenha sido atropelado por conta da velocidade que precisava ser imposta devido a uma demanda por filmes curtos. No final alguns ganchos surgiram para que novos filmes sejam produzidos. A curiosidade para conhecer os próximos capítulos ainda existe, mas a expectativa continuará baixa.


Filme: Morbius
Elenco: Jared Leto, Adria Arjona, Matt Smith, Jared Harris, Tyrese Gibson, Michael Keaton, Corey Johnson, Bentley Kalu
Direção: Daniel Espinosa
Roteiro: Matt Sazama, Burk Sharpless, Roy Thomas
Produção: Estados Unidos
Ano: 2022
Gênero: Ação
Sinopse: Um dos personagens mais fascinantes da Marvel chega às telas. O vencedor do Oscar Jared Leto se transforma no enigmático anti-herói, Michael Morbius. Com uma rara doença no sangue, e determinado a salvar outras pessoas com esse mesmo destino, Dr. Morbius tenta uma aposta extrema. O que antes parecia um grande sucesso se revelou como uma solução pior que a doença.
Classificação: 14 anos
Distribuidor: Sony Pictures
Streaming: Indisponível
Nota: 6,3

*Estreia dia 31 de março de 2022 nos cinemas*

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