Cada domingo de The Last Of Us, que acompanha aventura de Joel e Ellie pelos Estados Unidos pós-apocalíptico, tem se mostrado um verdadeiro turbilhão de emoções. Arrasando e dilacerando sem dó os corações do público, seja ele leigo ou fã, tal qual fez o jogo. Sendo esta, uma das grandes virtudes da série: manter esse nível altíssimo de dramaticidade e suspense, sem se tornar repetitiva pelos personagens coadjuvantes que nos deixam ao fim de cada episódio com seus desfechos inesperados, doloridos ou agridoces.
*texto contém spoilers deste episódio e dos anteriores de The Last Of Us, assim como do jogo*
Depois de 3 meses passados da morte de Henry e Sam, os dois viajantes partem em busca de Tommy (Gabriel Luna), o irmão de Joel e ex-Vaga-Lume, para tentar descobrir o paradeiro do grupo de guerrilheiros para terminar a sua missão para com a humanidade. Não demora muito para que os caminhos se encontrem, mas antes disso observamos Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) sendo emboscados por um grupo de montadores, onde acontece uma cena muito simples em que o personagem Pascal, que possui uma deficiência auditiva no ouvido esquerdo, não consegue escutar se Ellie está sendo atacada ou não por um cachorro que fareja infectado — voltaremos nela a seguir. Depois disso somos apresentados a Maria (Rutina Wesley), a esposa de Tommy, que, ao escutar o nome “Joel”, leva-o até o seu marido para uma comuna auto sustentada localizada em Wyoming, com eletricidade e alimentos — uma segunda chance para todos.
O encontro tão esperado dos personagens de Pedro Pascal e Gabriel Luna é carregado de emoção e sorrisos, que não vimos Joel dar desde antes do apocalipse. Ainda que amistoso, os irmãos necessitam resolver assuntos inacabados e sérios. Em suma, colocar o papo em dia. Nisso, Joel pede para que seu irmão termine a sua missão de escoltar Ellie até os Vagalumes. A cena em questão mostra o protagonista em seu estado de maior fragilidade. Lembra da cena do cachorro supramencionado?! Bom, ela entra aqui como um possível gatilho que desencadeia tudo isso. É simples mas mostra como Joel ainda é muito perturbado pelos fantasmas do seu passado. O desabafo que mistura sentimentos conflituosos e desproporcionais é muito bem atuado por Pascal, num dos seus melhores momentos em The Last Of Us. É perceptível cada camada que o ator conferiu a Joel e em como essa jornada junto de Ellie o impactou. Nessa parte, sinto que a série até conseguiu elevar ainda mais os sentimentos do personagem do que no jogo.
No entanto, ainda que muito emotivo, o “embate” que compõe o clímax do episódio é da dupla protagonista acerca da decisão de Joel. Aqui, Bella Ramsey e Pedro Pascal entregam tudo em suas atuações e revisitam um dos diálogos mais pesados e dolorosos de todo o game. Quando Joel fala que Ellie não é sua filha e ele certamente não é pai dela; passagem que remete diretamente ao nome do episódio: Parentescos.
Nela observamos os protagonistas encarando pela primeira vez o impacto da jornada em suas relações e como os personagens que passaram pelo caminho foram essenciais para a construção desse “parentesco”, com o adicional dos 3 meses de distância entre um episódio e outro, que permitiu desenvolverem ainda mais laços. É interessante como o roteiro condensa neste diálogo muito dos medos e traumas de cada personagem: Ellie e o seu medo de ficar sozinha e Joel e o seu trauma de não conseguir salvar alguém que ele ama (Sarah e Tess). No final das contas, tanto o público quanto eles entendem que são muito mais parecidos do que imaginavam.
Contudo, ainda que Craig Mazin tenha acertado nos diálogos e seja uma cena muito bem muito bem executada e atuada, a série não consegue desenvolver as consequências dela da melhor forma possível. Não há uma reação direta por parte da Ellie, ao contrário do jogo em que ela foge. Tudo aqui acontece de forma apressada, sem se preocupar com a evolução e entendimento dos personagens com determinadas ações. É como se este episódio de The Last Of Us estivesse preocupado em apenas adaptar essa passagem emblemática e não em como transpô-la para a TV da melhor forma. Um ponto negativo e inédito da série, que em todos os episódios trabalhou muito bem a sua história e arco dos personagens na base da paciência, permitindo com que a audiência conseguisse observar como tudo o que acontecia afetava Joel e Ellie de formas diferentes.
Se o roteiro, por sua vez, deixa bastante a desejar em alguns pontos. Ao menos a direção trabalha muito bem Parentescos como uma unidade distinta em relação aos episódios anteriores. O que não é de se espantar ao observar o nome de Jasmila Žbanić assinando o capítulo. A diretora indicada ao Oscar na categoria de Melhor Filme Internacional por Quo Vadis, Aida? ameniza o texto pouco inspirado nos momentos mais importantes ao trabalhar a sinergia entre o visual, as atuações e a trilha sonora, se ancorando nesses pilares para fazer com que Parentesco funcionasse da melhor forma possível; e ela conseguiu, com exceção dos minutos finais do episódio.
Para quem jogou The Last Of Us no PlayStation sabe o nível de tensão que é ver Joel se machucando gravemente na batalha frenética e sangrenta pelos corredores da faculdade e com Ellie lutando para salvá-lo. Era fato que seria muito difícil trazer tudo isso com o pouquíssimo tempo de tela restante no episódio, mas acredito que ao menos poderia resgatar o mesmo impacto com uma cena de ação melhor trabalhada. Parece que neste episódio em específico, Mazin só se preocupou na sucessão de fatos —como se fosse uma espécie de check-list de situações que deveriam constar aqui. Mas, ainda que com deslizes relativamente consideráveis em Parentescos, The Last Of Us, em seu episódio de respiro, tal qual foi o quarto, não demonstra perder o fôlego e o utiliza muito bem para preparar terreno para os últimos episódios que prometem injetar doses cavalares de emoção.
Aviso de quem já jogou: deixem os lencinhos prontos para o próximo.
Série: The Last of Us Episódio: 06 Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Gabriel Luna, Rutina Wesley Direção: Jasmila Žbanić Roteiro: Craig Mazin, Neil Druckmann Produção: Estados Unidos, Canadá Ano: 2023 Gênero: Ação, Aventura, Drama Sinopse: Vinte anos após a queda da civilização, Joel é contratado pra tirar Ellie de uma zona de quarentena perigosa. O que começa como um pequeno trabalho, logo se transforma em uma jornada brutal pela sobrevivência (Sinopse oficial). Classificação: 16 anos Streaming: HBO Max Nota: 8,0 |