Le théorème de Marguerite poderia ser um filme inspirador ao apresentar uma protagonista feminina em um ambiente predominantemente masculino e machista, como a única aluna da ENS (École Normale Supérieure), que consegue se destacar. No entanto, a narrativa do filme é mal estruturada e repleta de clichês, o que torna a experiência enfadonha e não aproveita o potencial crítico da história.
Após descobrir um erro em sua tese, Marguerite (Ella Rumpf) fica desolada e decide abandonar sua trajetória acadêmica. A falta de apoio de seu professor, Werner (Jean-Pierre Darroussin), que prefere ajudar um outro aluno, Lucas (Julien Frison), faz ela opta por deixar o mundo acadêmico e embarcar em uma jornada de autodescoberta, explorando sua identidade e o mundo real. Nessa nova realidade, Marguerite conhece Noa (Sonia Bonny), uma dançarina que lhe oferece um quarto temporário. Para custear seu aluguel, Marguerite começa a jogar Mahjong, um jogo que também a ajuda a encontrar respostas para os equívocos presentes em sua tese.
Estruturado de maneira deficiente, Le théorème de Marguerite perde sua identidade ao longo do filme. O que inicialmente parecia ser uma jornada de autodescoberta e enfrentamento dos preconceitos que Marguerite enfrenta em seu ambiente, é abruptamente abandonado em prol de um romance que compromete todo o potencial cinematográfico. É lamentável constatar que, para Marguerite alcançar seu objetivo, ela precisa depender da ajuda de Lucas em duas ocasiões cruciais: quando ele descobre o erro em sua tese e a envergonha publicamente durante uma palestra, e posteriormente quando ele a auxilia a provar sua tese.
Essa abordagem, infelizmente, perpetua a narrativa de que a protagonista feminina só pode alcançar sucesso e realizar seus objetivos por meio da intervenção de um homem. Em vez de desafiar o ambiente machista em que Marguerite está inserida, o filme acaba reforçando a ideia de que ela depende da ajuda masculina para ter sucesso em sua empreitada acadêmica.
Essa escolha narrativa mina a proposta crítica do filme, uma vez que a história poderia ter se concentrado no empoderamento e na superação de Marguerite sem a necessidade de recorrer a um personagem masculino para validar suas conquistas. É uma oportunidade perdida para explorar a resiliência e a força da personagem principal, que acaba sendo subjugada pela dependência de um homem para alcançar seus objetivos.
A partir da metade da projeção o filme investe em um romance improvável entre Marguerite e Lucas, que, nesse ponto, já é visto pelo espectador como um personagem quase desprezível. Essa estrutura é amarrada por diversos clichês, começando pelo roteiro extremamente previsível, onde quase todos os acontecimentos podem ser antecipados. Mesmo o romance que parecia improvável no início do filme se torna previsível e espera-se que ocorra em algum momento.
Além disso, o filme recorre a vários mini clipes ao longo de sua projeção, mostrando Marguerite estudando antes de sua apresentação, com cortes rápidos que retratam momentos em que ela resolve problemas no quadro ou estuda de pé. Esses recursos temporais são utilizados repetidamente durante o filme, como quando ela se irrita com seu professor e há outro mini clipe que mostra sua tristeza, ou quando ela busca uma nova vida e são exibidos fragmentos dela estudando, na biblioteca, na balada e jogando Mahjong.
Dessa forma, Le théorème de Marguerite não é um filme ruim. Mesmo entre todos os clichês, ele consegue cativar o público em alguns momentos, como na cena em que Marguerite está apresentando sua tese e Lucas aponta um erro. A câmera foca nela com uma profundidade reduzida com um primeiro plano, fazendo com que seu desespero seja sentido pelo público. Infelizmente, todo esse potencial emocional é substituído por um filme preguiçoso que parece ter sido feito inúmeras vezes antes.
Filme: Le théorème de Marguerite Elenco: Ella Rumpf, Jean-Pierre Darroussin, Julien Frison, Sonia Bonny, Clotilde Courau Direção: Anna Novion Roteiro: Agnès Feuvre, Anna Novion, Marie-Stéphane Imbert, Mathieu Robin Produção: França, Suiça Ano: 2023 Gênero: Drama Sinopse: Uma brilhante estudante de matemática na melhor universidade da França, a Ecole Normale Supérieure. No dia de sua apresentação de tese, um erro abala toda a certeza em sua vida planejada, e ela decide abandonar tudo e recomeçar do zero. Classificação: 14 anos Distribuidor: Pyramide Streaming: Indisponível Nota: 4,0 Filme exibido no Festival de Cannes de 2023 |