CRÍTICA – O EXORCISTA: O DEVOTO

CRÍTICA – O EXORCISTA: O DEVOTO

Próximo ao Dia das Bruxas, o filme “O Exorcista – O Devoto” chega às telas de cinema como uma possível continuação do clássico de 1973, “O Exorcista”, dirigido por William Friedkin. A trama de 2023 redefine o universo da franquia, deixando para trás as sequências anteriores. Nesse novo enredo, somos levados ao círculo íntimo de Victor Fielding, o protagonista, que, após a trágica perda de sua esposa, decide recomeçar a vida ao lado de sua filha, Angela. Tudo muda quando ele permite que a filha saia com uma amiga, e elas acabam se perdendo em uma densa floresta após tentarem se comunicar com um espírito que afirma ser a mãe da jovem. Essa comunicação espiritual custa caro para as duas garotas que enfrentam uma possessão contra uma entidade parecida com a mesma que possuiu a personagem Regan em 1973. 

Sob a direção de David Gordon Green, conhecido por ter ‘’revivido’’ a franquia “Halloween”, a obra apresenta elementos iniciais cativantes. Destaca-se o uso da profundidade de campo e o deslocamento lateral da câmera, que revelam outros elementos no ambiente, conferindo um toque de realismo aos quadros. A estética empregada se assemelha a outras produções contemporâneas do gênero, como “Doutor Sono” (dirigido por Mike Flanagan em 2019), “It” (de Andy Muschietti em 2017) e “Hereditário” (de Ari Aster em 2018). Essas semelhanças não se limitam apenas ao aspecto visual, pois os subtextos da trama se entrelaçam habilmente com a narrativa, uma forte característica gerada pelo horror moderno. A câmera fotográfica do pai que registra preciosas memórias, a curiosidade da filha em explorar interações para além do âmbito escolar e as conexões entre os personagens movidas pelo sentimento de amor são alguns exemplos dessas interligações.

À semelhança das obras mencionadas, a direção do filme não apela para o excesso de “jump scares” como mecanismo para instigar o medo nos espectadores. Em vez disso, somos gradualmente imersos em uma trama de suspense que se desenrola até a metade do segundo ato. Nesse ponto, embora já tenhamos pistas sobre possíveis desfechos, as informações são escassas. No entanto, após a possessão, o filme parece cair em um ciclo de repetições de técnicas destinadas a evocar o medo, ao mesmo tempo, em que explora de forma explícita o tema da fé. Ao contrário do enfoque mais sutil adotado pelo cineasta Mike Flanagan, a abordagem explícita do tema não é um problema em suas produções, mas neste filme em particular, torna-se quase constrangedor quando os diálogos transformam-se em exposições didáticas na tela. Parece que David Gordon Green se sente obrigado a citar cada referência bíblica para garantir que o público compreenda que a narrativa versa sobre a fé e o cristianismo na era contemporânea.

O que deveria ser o destaque da trama para cativar o público, o próprio exorcismo, se transforma em uma espécie de encenação física que relembra as paródias de terror, como a franquia “Todo Mundo em Pânico”. A ideia por trás do exorcismo é intrigante, reunindo representantes de diversas religiões locais para combater o demônio que assola duas crianças. Contudo, a execução desse exorcismo se torna mais uma cena de horror cômico do que um momento capaz de despertar o medo, como acontecia no filme original de William Friedkin. O desfecho da obra, embora talvez uma das cenas mais apáticas, consegue ao mesmo tempo, surpreender o espectador, criando um sentimento ambíguo de expectativa.

Após concluir a exibição do filme, fiquei com a impressão de que muitos elementos não foram devidamente explorados. Havia um potencial significativo para abordar e desenvolver as religiões de matrizes africanas e negras, como brevemente retratado em um flashback, mas esse aspecto se resumiu a uma camada superficial e pouco desenvolvida nos personagens principais. Além disso, a inclusão de personagens do filme anterior ainda deixou-me tentando entender sua relevância na trama atual. Infelizmente, é um lembrete de que, em muitos casos, as franquias se moldam também pelos aspectos nostálgicos, o que pode comprometer a integridade da história.


Filme: The Exorcist: Believer (O Exorcista: O Devoto)
Elenco: Leslie Odom Jr., Lidya Jewett, Ann Dowd, Olivia O’Neill, Jennifer Nettles, Ellen Burstyn e Linda Blair
Direção: David Gordon Green
Roteiro: David Gordon Green, Scott Teems e Danny McBride
Produção: Estados Unidos
Ano: 2023
Gênero: Terror
Sinopse: Victor Fielding decide confrontar o mal quando repara que sua filha, Angela, e a amiga dela, Katherine, mostram sinais de possessão demoníaca.
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Universal Pictures
Streaming: Indisponível
Nota: 4.0

 

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