CRÍTICA – AS BESTAS

CRÍTICA – AS BESTAS

A imagem da câmera e o som do silêncio. As bestas

O filme de Rodrigo Sorogoyen se constrói enquanto criação de uma atmosfera que tensiona a espectatorialidade. O anseio que sentimos ao assistir o filme é proporcional ao desespero silencioso que Olga e Antoine sentem ao viver naquele vilarejo, sendo ameaçados e perturbados pelos seus vizinhos. Nós, espectadores, somos os únicos a testemunhar o que foi negado e destruído, contudo, no filme, assim como na vida, as memórias não se apagam.

No início, é difícil compreender o que os levou até ali, um pequeno vilarejo na Espanha, porém, com o passar dos minutos, é fácil perceber a beleza que os encantou. O paraíso magistral que Antoine sonhou na juventude se tornou possível, dessa forma, é notório a delicadeza que Sorogoyen tem ao nos apresentar o vilarejo, as paisagens, os animais, a vegetação e, sobretudo, a figura humana nesses ambientes. É o olhar humano diante da paisagem, é a brisa nos cabelos enquanto se descansa, é o frio da noite enquanto se toma um café ou o barulho das folhas quebrando ao se andar pela floresta. Tudo isso é importante para nós porque isso importa imensamente para nosso casal de protagonistas, e se atentar aos detalhes é enxergar o amor deles dois também.

O sufocamento e o suspense do filme se instalam quando conhecemos a dinâmica violenta pela qual nosso casal de franceses é submetido constantemente. O medo é latente, ao ponto de enxergar a morte a espreita. A partir de discussões acerca de um projeto de energia eólica para a região e opiniões divergentes, a vida dos estrangeiros muda e suas relações sociais passam a ser banhadas por xenofobia, agressões e silenciamento — tanto por parte dos moradores, quanto por parte da polícia. É inquietante ser testemunha de algo que está fora do seu controle e que te magoa, te choca, te paralisa. Rodrigo Sorogoyen conta histórias de um jeito único, assim como Antoine, ele só precisa de uma câmera na mão.

São inúmeros os desdobramentos impactantes durante o filme, e as atuações vivazes e o ótimo desenvolvimento do roteiro nos trazem cenas inteiramente bem construídas e atmosféricas. É uma obra que bloqueia nossa respiração de tempos em tempos, pois, o bucólico da natureza perante o animal agressivo que o ser humano consegue ser é perturbador. A reminiscência de uma vida e o luto que ela deixou. Para Olga, a natureza consegue ser o acalento negado pelas instituições de poder, assim como a esperança, entretanto, entre verdes, azuis e laranjas, a obra nos deixa um grito preso na garganta e um suspiro final, como o do cavalo ao início do filme. Sorogoyen é um nome para se anotar e aguardar ansiosamente pelo próximo trabalho.


Filme: As Bestas
Elenco: Denis Ménochet, Marina Foïs, Luis Zahera, Diego Anido, Marie Colomb
Direção: Rodrigo Sorogoyen
Roteiro: Rodrigo Sorogoyen, Isabel Peña
Produção: França, Espanha
Ano: 2022
Gênero: Drama, suspense
Sinopse: As Bestas é um thriller de Rodrigo Sorogoyen que acompanha a vida de Antoine (Denis Ménochet) e Olga (Marina Foïs), um casal francês que vive há muito tempo numa pequena aldeia da Galiza. Buscando conexão com a natureza, eles têm uma fazenda e restauram casas abandonadas para facilitar o repovoamento, além de praticar uma agricultura ecologicamente responsável. Tudo deveria ser idílico, a não ser por sua oposição a um projeto de turbina eólica que gera um sério conflito com seus vizinhos, levando a uma tensão irreparável.
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Pandora Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 9,5

Sobre o Autor

Share

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *