CRÍTICA – NÉVOA PRATEADA

CRÍTICA – NÉVOA PRATEADA

Acho fascinante quando nos aventuramos em uma obra desconhecida, especialmente aquela que recebeu prestígio em festivais internacionais, e nos deparamos com uma sensibilidade tão singular que nos envolve profundamente na experiência artística. Sacha Polak, a diretora do filme, não busca revolucionar a linguagem cinematográfica, e é importante reconhecer que, mesmo nesta obra elogiável, há desafios na condução do melodrama, especialmente na representação do rosto e do corpo em constante estado de degradação, incluindo os momentos mais íntimos, como nas cenas de relação sexual. Em alguns momentos, parece que uma das personagens está sempre nesse estado de desequilíbrio, o que pode diminuir a potência do drama em certos pontos. Névoa Prateada

“Silver Haze”, ou “Névoa Prateada” em português, narra a história de duas personagens principais: Frankly, interpretada por Vicky Knight, uma enfermeira cuja vida se desdobra entre o trabalho e seu lar, buscando reconstruir-se após um trauma vivido há 15 anos. As cicatrizes desse trauma são evidentes, com parte do seu corpo permanentemente marcado por um incêndio criminoso que a atingiu enquanto dormia. Em busca de respostas e de si mesma, Frankly parte numa jornada com sua paciente, Florence, interpretada por Esme Creed-Miles, e durante essa viagem floresce uma paixão que mistura prazer e angústia.

Após uma rápida pesquisa na internet, verifiquei que a protagonista apresenta seu corpo de forma autêntica no filme, sem o uso de maquiagem para suavizar suas cicatrizes ou simular queimaduras. A atriz/personagem demonstra coragem ao se expor durante as cenas, o que contribui de maneira significativa para sua interpretação e se destaca como um dos pontos mais marcantes do filme. Em momentos de fotogenia, nos quais a câmera permanece estática e captura as micro expressões do rosto, somos envolvidos pela persona da atriz, especialmente após conhecermos o quanto ela se dedicou ao papel e como desenvolveu a complexidade de um ser humano que sofreu internamente e agora busca se redescobrir após um longo período de trauma.

Um dos problemas do filme talvez seja a abordagem de Sacha Polak na direção. Continuo refletindo sobre o filme em minha análise crítica e percebo que pode haver um excesso em prolongar o sofrimento das personagens, às vezes exagerando nesses momentos para nos fazer sentir suas dores. Desde o início, somos imersos nos desdobramentos cotidianos e significativos das personagens, e talvez não fosse necessário tanto “manejo” para nos envolver na história. Transparece que a função da personagem é apenas sofrer, mesmo nos momentos em que ela sorri, grita e brinca. Quando a estética externa flerta com o realismo, relembrando outras obras como as de Ken Loach, parece que estamos passando nossos olhos por uma utopia onde a personagem só tem a função de aparecer frontalmente para a câmera.

Portanto, não é que a obra seja ruim ou problemática por exibir esse corpo diante da câmera, pois esse corpo é bastante necessário, com uso de maquiagem ou não. No entanto, a execução dos pontos da narrativa para filmar essa personagem em crise parece bastante forçada. Há sensibilidade em alguns momentos, mas em outros não entendemos os motivos para sempre ter esse corpo agredido, já que é nítido que os fantasmas e cicatrizes internos permanecem ali, próximos da câmera.


Filme: Névoa Prateada (Silver Haze)
Elenco: Vicky Knight, Angela Bruce, Esme Creed-Miles, Cain Aiden e Alfie Deegan
Direção: Sacha Polak
Roteiro: Sacha Polak
Produção: Holanda e Inglaterra
Ano: 2023
Gênero: Drama
Sinopse: Quinze anos após se queimar quando a casa onde dormia quando criança pegou fogo, Franky busca respostas porque ainda não conseguiu esquecer
Classificação: 18 anos
Distribuidor: BFI Distribution
Streaming: Indisponível
Nota: 6,0

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