Ao longo de seus 215 minutos de duração, O Brutalista (2024) faz uso de uma linguagem audiovisual de larga escala para, além de exibir paisagens e construções arquitetônicas, tratar danos humanos profundos. No filme, que se inicia logo após a 2ª Guerra Mundial, o arquiteto húngaro László Toth consegue imigrar aos Estados Unidos para começar uma nova vida, tentando encontrar uma maneira de trazer sua esposa e sua sobrinha, que ficaram na Europa. Em um determinado momento, Lászlo consegue um trabalho para fazer uma ambiciosa construção, e, conforme as dificuldades na realização desse projeto vão surgindo, também vão sendo expostas as complicações de ser um estrangeiro. Para dar conta da gravidade da trama, o filme foi feito em formato VistaVision, que, a grosso modo, é mais amplo que o formato 35mm tradicional, o que faz com que as imagens tenham um aspecto “engrandecido”, ou, como expressa uma citação no pôster do filme, “monumental”. É claro, essa decisão é pertinente considerando que é um filme que destaca a arquitetura, basta analisar os planos gerais que dão conta da imensidão das construções e criam uma sensação de grandeza nos espaços interiores; não é só para isso, contudo, que o filme faz uso desse formato, mas para ligá-lo diretamente ao tamanho dos traumas do protagonista.
Lászlo, de início, em seus primeiros meses como cidadão americano, tem uma natureza amigável e branda, trabalha onde quer que lhe deem dinheiro, sem se ressentir, e parece sempre evitar conflitos; uma personalidade gentil e sábia, que, paradoxalmente à sua humildade, chama a atenção, para o bem e para o mal. Apesar de não ser nominalmente atribuído durante o filme, o fator do estrangeirismo é, definitivamente, importante para moldar essa personalidade naquele momento, já que, na condição de imigrante e judeu, ainda por cima, o menor passo em falso poderia pôr sua condição de vida a perder, pelo simples fato de não ser americano. Esse contexto é importante para notar as transformações que o protagonista sofre com o passar do tempo, de décadas até, pois, sim, a grande escala do filme aplica-se também ao tempo; um longo filme para uma longa vida. Conforme o Lászlo ascende socialmente, seu comportamento muda. A princípio, por passar a se relacionar com membros da elite da Pensilvânia, que o abraçam como uma aquisição para seu relicário, o arquiteto encontra a oportunidade de dar luz a grandes projetos e de conseguir trazer sua família para a América. É claro, como os temas sinalizam, nada disso será necessariamente simples, ou justo, ou ético, e essa camada, a da dissecação do sonho americano, é uma importantíssima ao filme.
Há, entretanto, mais uma, que considero a fundação que justifica e amplifica o filme em todos os seus aspectos: a relação entre Lászlo e sua esposa, Erzsébet. O desejo em tê-la é ardente, romântico, e isso fica explícito quando ouvem-se as cartas que trocam ao longo do filme. Inclusive, o início do filme, a chegada de Lászlo em Nova Iorque, tem a narração da leitura de uma carta escrita por Erzsébet. Falar em mais detalhes sobre essa relação faria com que se chegasse ao terreno de spoilers, não o farei, mas basta dizer que Erzsébet é uma força que tenta impedir a transformação total e irreversível de Lászlo nesse novo mundo, uma que atravessa o protagonista de tal forma que, ainda que tente resistir, percebe que sem ela, ele está incompleto. Para um filme que fala de um grande projeto arquitetônico que custa a ser finalizado, essa relação conjugal é uma excelente metáfora, pois todos se importam com o que se vê, com o prédio brutalista do arquiteto húngaro, mas não com o que pôs o prédio em pé, os pilares, a mulher.
![]() |
Filme: (The Brutalist) O Brutalista Elenco: Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce Direção: Brady Corbet Roteiro: Brady Corbet, Mona Fastvold Produção: Reino Unido, Estados Unidos Ano: 2024 Gênero: Drama Sinopse: Arquiteto visionário foge da Europa pós-Segunda Guerra e chega aos Estados Unidos para reconstruir sua vida, carreira e casamento. Sozinho em um novo país, ele se estabelece na Pensilvânia, onde um rico e proeminente industrial reconhece seu talento. Classificação: 18 anos Distribuidor: Universal Pictures Streaming: Indisponível Nota: 8,0 |
One thought on “CRÍTICA — O BRUTALISTA”