O que você faria caso se encontrasse trancafiado em um carro? Teria você motivos para estar preso? No icônico filme Confinado, de David Yarovesky, o personagem de Bill Skarsgård se encontra nessa situação. Com uma tensão palpável, essa história previamente retratada no cinema consegue se reinventar com sua reflexão acerca do certo e errado, da moralidade e, acima de tudo, da justiça. Afinal, qual seria a forma supostamente correta de agir em uma situação como essa? Qual lado seria o moralmente correto ou errado?
Sem grandes perspectivas de futuro, Eddie (Bill Skarsgård) se encontra envolvido em situações problemáticas devido a uma busca por dinheiro rápido. Ao acabar trancafiado em um carro projetado para não deixar quem entra escapar, ele se vê nas mãos de um milionário que o faz questionar suas escolhas de vida de maneira agressiva. Entre desafios e debates, ele e o personagem de Anthony Hopkins, William, são como os dois lados de uma moeda. Ambos negligenciados pelo Estado de formas distintas, mas igualmente afetados. Enquanto um é reflexo de uma população esquecida pelo governo, o outro possui diversos privilégios e, mesmo assim, sente-se desamparado em uma sociedade que não oferece segurança e o faz acreditar que precisa se proteger pelos próprios meios. Assim, com essas vivências tão opostas, suas perspectivas de justiça diferem, e a maneira que agem sobre isso também. Sem uma resposta definitiva, a coexistência desses dois personagens moralmente dúbios é o que torna a narrativa interessante, uma vez que diferentes interpretações e opiniões podem ser formadas.
Com personagens de visões tão diferentes, o fato de ser um filme de um cenário só torna-se ainda mais agonizante. O intenso jogo de câmera associado a um design de som bastante dinâmico leva o público a momentos de tensão junto do protagonista, tornando a sensação de confinamento muito mais apavorante. Fugindo de uma monotonia esperada por filmes desse tipo, que geralmente não seguram o interesse por muito tempo, o longa consegue inovar tanto nos pontos de maior tensão quanto nos diferentes usos da imagem (que alterna muita vezes para o ponto de vista das câmeras de William) – e faz um registro interessante do 360º para construir a ideia de um local claustrofóbico. A escolha da trilha sonora é outro fator que corrobora para esse sentimento de agonia do protagonista e que atinge também aqueles que estão assistindo. Mesmo de forma tão surrealista – estar preso em um carro que nem quem para ao lado consegue escutar -, o trancafiamento se torna tão palpável que em momento algum se questiona a verossimilhança da narrativa.
Apesar de tudo, o filme não vai muito além do que ele mostra em seu próprio trailer. Com ótimas atuações, acredito que poderia alcançar muito mais do que realmente é, mas acaba se prendendo tanto em sua ideia de confinamento que não explora os personagens em níveis mais profundos. Com uma premissa extremamente interessante sobre a quem a justiça serve e como ela deve ser feita, a obra não se aproveita dessa própria reflexão, que acaba ficando praticamente nas mãos de quem está assistindo ao filme. Em outros momentos, não utiliza dos ideais dicotômicos dos personagens e se torna mais uma visão do que é considerado certo e errado, perdendo-se no debate entre duas perspectivas distintas do que seria moralmente aceitável. Uma obra cujo objetivo central deveria ser justamente seus ideais opostos se torna apenas um suspense com atores conhecidos. Mesmo com tanto a ser explorado, não se desenvolve no que poderia ser seu grande diferencial.
Confinado, portanto, é um filme divertido para aqueles que gostam de assistir a obras que te deixam quase levantando da cadeira de tanta tensão, mas peca no que diz respeito à mensagem que deseja passar. Mesmo com um elenco muito bom e uma tensão palpável, acaba se assemelhando a um filme de ação no qual torcemos para o protagonista simplesmente porque o suposto vilão estaria errado, sem realmente questionar o porquê das ações. Apesar disso, por se tratar de uma narrativa já explorada no cinema anteriormente, é interessante perceber como as nuances e até mesmo a história como um todo podem seguir diferentes caminhos. Desse jeito, assim como a própria obra, diversas opiniões e reflexões podem ser feitas, mas de forma alguma existirá uma visão certa ou errada.
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Filme: Locked (Confinado) Elenco: Bill Skarsgård, Anthony Hopkins, Ashley Cartwright Direção: David Yarovesky Roteiro: Michael Arlen Ross Produção: EUA Ano: 2025 Gênero: Ação, Suspense Sinopse: Um ladrão invade um SUV de luxo e percebe que, na verdade, caiu em uma armadilha complexa e mortal armada por uma figura misteriosa. Classificação: 16 anos Distribuidor: Diamond Films Streaming: Não Nota: 6,0 |