Falar de amor no audiovisual parece até fácil. Afinal, já estamos saturados de tantos filmes clichês sobre romances meia boca. Entretanto, o amor romântico está sendo cada vez mais questionado e novos modelos de relacionamento estão surgindo. Não à toa, os enredos devem seguir essas mudanças e contar essas histórias. O que é o caso de A Porta Ao Lado. O filme traça o paralelo entre dois casais: Mari e Rafa (Letícia Colin e Dan Ferreira), que possuem um modelo de relação tradicional e monogâmico, e Ísis e Fred (Bárbara Paz e Túlio Starling), que possuem um casamento não monogâmico. Quando esses casais se tornam vizinhos de porta e, consequentemente, a relação deles se aproxima, cada casal se torna refém de seus desejos e inseguranças.
Letícia Colin é sempre um espetáculo atuando. Na minha opinião, é uma das melhores atrizes da geração dela. Nesse sentido, é a partir de sua personagem que a história se desenrola. Ela possui uma relação conturbada com a família e parece estar acomodada e dependente no seu relacionamento. Ela tem convicções, mas também tem desejos reprimidos que vão contra tudo que ela sempre fez questão de acreditar. E esses dilemas são super críveis! Ela funciona como uma porta-voz do público com suas dúvidas.
Por outro lado, também acompanhamos a trajetória da vida da personagem de Bárbara Paz – outra brilhante atriz, diga-se de passagem – que é o completo oposto do fio condutor da narrativa. Ela é livre, sedutora e despreocupada. Não é só a personagem de Letícia que se encanta e se inspira nela de alguma forma, mas nós também. Porém, apesar de tanto magnetismo, a personagem e seu marido parecem um tanto estereotipados. Nada disso é culpa dos atores. Muito pelo contrário. Eles soam como a visão de alguém monogâmico sobre o que seria um casal não tradicional. É como se a vida deles fosse baseada no modelo de relação, além de serem vistos como hipócritas em muitos momentos. É claro que a desconfiança e as crises são capazes de acontecer em qualquer casamento, mas, por se tratar de um tema em que a maioria ainda vê como tabu, poderia ser trabalhado com mais atenção.
É um filme grande. Ele começa com a curiosidade, mas finaliza com desgaste. É uma trama com diálogos muito importantes. Ao meu ver, até mais importantes que as próprias ações. Por isso, se o filme não prende, torna-se cansativo. Acredito que se o filme se aprofundasse mais em questões que afetam qualquer relação, ele teria esse êxito. Ele passa por alto por questões financeiras, por exemplo. Em um diálogo fala-se de questões de diferença racial. Tudo como um mero detalhe, mas que tem enorme importância ao se tratar de casamentos, principalmente nos dias de hoje.
O filme acerta em promover perguntas sobre as maneiras de se relacionar. Demonstra a fraqueza em modelos diferentes de casamento e suas formas distintas de lidar. É interessante o fato dele não trazer necessariamente respostas, mas os personagens são levados pelas suas escolhas. Mesmo um tanto cansativo e superficial, é um filme que vale para olharmos para nós. O que nos faz bem numa relação? O que é companheirismo? Temos que perceber o que nos afeta.
Filme: A Porta Ao Lado Elenco: Letícia Colin, Bárbara Paz, Dan Ferreira, Túlio Starling Direção: Julia Rezende Roteiro: Patricia Corso, L.G. Bayão e colaboração de Leonardo Moreira Produção: Brasil Ano: 2023 Gênero: Drama, Romance Sinopse: Mari e Rafa vivem um relacionamento tradicional, estável e sem altos e baixos. O casamento segue tranquilo até o dia em que se muda para o apartamento ao lado o casal Isis e Fred. Os novos vizinhos vivem um relacionamento aberto, separam sexo de amor e decidiram não ter filhos. O encontro dos dois casais irá provocar desejos, dúvidas, inseguranças, mentiras e transformações nos quatro, fazendo com que cada um reavalie suas escolhas. Classificação: 16 anos Distribuidor: Morena Filmes, Vitrine Filmes Streaming: Telecine Nota: 6,5 |