CRÍTICA – DRIVEWAYS: UMA AMIZADE INESPERADA

CRÍTICA – DRIVEWAYS: UMA AMIZADE INESPERADA

A última temporada de premiações “apresentou” Hong Chau ao grande público após sua indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por A Baleia (2022) de Darren Aronofsky. Para além disso, também pudemos assisti-la ao lado de Ralph Fiennes, Anya Taylor-Joy e Nicholas Holt em The Menu (2022).

Em Driveways: uma amizade diferente (Andrew Ahn, 2019), a atriz interpreta Kathy, uma mãe aspirante a enfermeira que lida com o luto por uma irmã com quem não mantinha contato. Ao seu lado, um companheiro silencioso e tímido, seu filho Cody (Lucas Jaye), de oito (quase nove) anos de idade, a quem ela chama de professor. Uma criança não muito infantil e bastante sensível que não consegue lidar com um mundo tão grande a sua volta.

Em uma viagem durante o verão, mãe e filho vão até a cidade onde a irmã de Kathy residia e se deparam com uma surpresa não muito agradável: a casa em ruínas de April, a falecida, que está tomada por objetos sem serventia, lixo e até um cadáver de gato em um dos banheiros. Nessa apresentação do ambiente ligeiramente hostil que cerca mãe e filho, vemos, aos poucos, mágoas e arrependimentos emergirem da personagem de Chau.

Enquanto Kathy lida com as dores de uma relação frustrada e sem volta com a irmã morta, Cody lida com o embaraço de estar entre pessoas de sua idade. A “luz no fim do túnel” para o jovem rapaz está justamente em Del (Brian Dennehy), o senhor idoso da casa ao lado com quem o garoto começa a conversar timidamente.

Driveways é um filme independente, que traz em sua bagagem uma história comum e fácil de se identificar. O roteiro é de uma beleza simples e sutil, e em seus tons amarelados e quentes de verão somos agraciados com pequenas, porém profundas reflexões. Cada personagem da narrativa apresentada aqui está lutando com alguma angústia dentro de si. O luto iminente em Kathy e também em Del é somente uma porta para outras tristezas como velhice, solidão e a confusão de ser uma pessoa responsável por outra. Há diversas passagens emocionantes, e mesmo os personagens secundários entregam momentos marcantes.

Um momento em especial e que toca bastante é quando um dos amigos de Del, que está perdido em suas memórias e na passagem do tempo feroz, recita, de cabeça, um poema de seus tempos escolares. Enquanto sua memória falha em se lembrar do que foi fazer no mercado, algo talvez banal lhe volta a mente. O texto sobre a morte lhes faz conscientes do pouco que lhes resta nessa existência e a beleza poética das palavras verbalizadas ali permanece no ar como uma luz que perpassa a névoa do tempo.

A medida em que os dias passam e a bagunça começa a ser organizada, são também organizados os pensamentos e sentimentos de Kathy e Cody. Enquanto Cody está contente com sua nova amizade com Del, novas mudanças surgem para bagunçar novamente sua tão batalhada estabilidade. A ameaça a uma amizade tão nova e verdadeira é como uma bomba jogada no colo do jovem garoto. A forma em que se apresentam os temores e desesperos exagerados de uma criança frente as inconstâncias da vida é colocada de maneira agradável de se acompanhar, e muito pode cativar no espectador a atuação de Lucas Jaye. Seu entrosamento tanto com Hong Chau quanto com Brian Dennehy é sincero e natural e sua performance vai muito bem com a proposta do filme.

O arco de Kathy explora sua relação quebrada com a irmã que não está mais ali para retomar laços. Entre caixas, lixo e fotografias antigas, Kathy tenta uma reconexão com alguém que não conhecia de fato. Sua falta de lembranças da infância e coisas triviais leva à angústia de sua personagem, que está também na percepção da falta de tempo que a vida nos dá. Ao perceber que para ela e sua irmã mais velha esse tempo se esgotou, só lhe resta se reerguer e continuar a caminhada.

Driveways possui apenas 1h23min de duração, e ainda assim diz muito em um espaço de tempo tão limitado. Nada é corrido e não há conflitos grandiosos entre os personagens. É um filme suave e sensível sobre temas importantes. Sua narrativa não é apelativa e prende a atenção do espectador de forma agradável, pode-se até dizer que é um filme de conforto, daqueles que temos vontade de revisitar algumas vezes.

Vale a pena assisti-lo em qualquer ocasião, independente do estado de espírito do espectador. Sua atmosfera é aconchegante e acompanhar o desenvolvimento pessoal dos personagens até o fim é uma jornada bastante agradável. Também posso acrescentar que assistir à Hong Chau em tela será sempre uma boa pedida. Sua presença é magnética e mesmo que não esteja fazendo “nada demais” em tela, somos cativados por sua pessoa.


  Filme: Driveways: Uma amizade inesperada
Elenco: Hong Chau, Lucas Jaye, Brian Dennehy
Direção: Andrew Ahn
Roteiro: Hannah Bos, Paul Thureen
Produção: EUA
Ano: 2019
Gênero: Drama
Sinopse: Cody é um menino solitário que acompanha sua mãe em uma viagem para limpar a casa de sua falecida tia. Ele acaba formando uma inesperada amizade com Del, o veterano de guerra aposentado que mora ao lado.
Classificação: 12 anos
Distribuidor: Elite Filmes
Streaming: Looke
Nota: 8,5

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