Elvis é uma cinebiografia musical que conta a trajetória do super astro do Rock, da descoberta da música como algo necessário para seu corpo até o fim melancólico de sua vida. O longa pesa a mão, em certos momentos, no drama vivido por ele, mas tem a preocupação de não destruir a sua imagem quando escolhe não revelar os vários acontecimentos questionáveis de sua vida, sobretudo na sua relação com sua esposa, Priscilla Presley. O diretor Baz Luhrmann sabe a responsabilidade que tem em mãos. Elvis é uma lenda. Sua história é riquíssima, embora curta, e um filme sobre ele precisaria, necessariamente, estar à altura daquele garoto de cintura solta e que fazia enorme sucesso, principalmente, com o público feminino.
Mesmo sendo um filme bem regular, sem grandes reviravoltas e apresentando uma história já conhecida, o diretor não deixou de se arriscar ao usar o controverso “Coronel Tom Parker” como o narrador e contando uma espécie de versão própria da história desse fenômeno chamado Elvis Presley e em como ele, em um gesto de puro “altruísmo”, foi o grande responsável pela criação dessa espécie de divindade da música. A intenção por trás dessa escolha é um tanto confusa e, muito embora eu reconheça que dá ao filme um toque obscuro e não confiável, a verdade é que com o passar dos minutos fica tudo muito claro e se torna muito perceptível a parcela de culpa que ele tem no declínio de Elvis, principalmente, pela espécie de prisão psicológica que ele exercia sobre aquele jovem que só queria subir ao palco, cantar e requebrar os quadris. Evidente que a escalação de Tom Hanks para dar vida a este personagem, também conhecido como Ilusionista, passa mais credibilidade para o filme. O uso do nome e imagem do ator, mesmo que sob muita maquiagem para interpretar o Coronel, funciona para que o público preste atenção em tudo o que está sendo dito e, com toda certeza, a história da forma como é contada funciona por conta de Hanks.
Baz Luhrmann dirigiu um dos melhores musicais contemporâneos que é Moulin Rouge! (2001), logo podemos dizer que em Elvis ele se encontra em uma zona de conforto. Ele sabe filmar o espetáculo bem como as cenas mais intimistas, pois vale lembrar que Luhrmann também é o diretor de Romeu+Julieta (1996) e Austrália (2008). O diretor, aqui, mescla bastante sob qual perspectiva filma Elvis: O astro ou o filho, o namorado e o jovem que gosta de se juntar a BB King em uma noitada regada a boa música.
Quando o filme assume o lado musical, o faz com bastante intensidade, dando tempo suficiente para cada canção e para cada performance de Austin Butler. Realmente impressiona as similitudes entre o ator e o astro do rock. Mas uma cena me chama bastante atenção: o despertar de Elvis para a música. Quando ainda garoto se vê envolvido pelo ritmo, pela batida e, sobretudo, pelo calor da Black Music. Mais interessante ainda é como o diretor o coloca entre o “sagrado” e o “profano”, o elevando, ao fim, no entusiasmo do interior de uma igreja. Esse é um marco importante para sabermos como a musica corre nas veias de Elvis e em como o movimento corporal, que lhe deu, inclusive, o apelido de Elvis Pélvis, era a forma com a qual conseguia extravasar toda aquela energia.
Por mais contagiante que seja cada passagem da carreira de Elvis e sempre marcada, aqui, por uma de suas performances, o filme adota o contraste entre a altivez e a melancolia, sendo esta última a mais presente em todo o longa. É triste perceber que, mesmo Elvis tendo sido gigante e até hoje lembrado como o “Rei do Rock”, ele poderia ter sido muito maior senão fosse as armadilhas próprias da busca pela fama e pelo amor incondicional que sentia pelo palco e por sua fiel plateia. Cada um de seus shows em Las Vegas se tratava disso. Não era sobre dinheiro e sim sobre sua conexão com todos aqueles que estavam assistindo, ao vivo ou via satélite.
Muito embora haja um teor politico respaldando cada ato do filme, sendo um deles a morte de Martin Luther King Jr, o caminho seguido é aquele da citação e não do desenvolvimento dessas conjecturas. No entanto o entendimento é claro ao mostrar que Elvis era antenado com o que ocorria ao seu redor e, mesmo travando uma batalha pessoal pelo direito de se sentir vivo cantando, sabia que precisava fazer mais e que sua voz tinha força o bastante para amplificar discursos poderosos.
Se todo o filme é imbuído de muito sentimentalismo, o mesmo não se pode dizer do romance vivido por Elvis e Priscilla. O diretor inclusive modifica e omite certas informações no sentido de manter um idealismo forte sobre quem foi Elvis a partir da perspectiva do astro e não do homem falho. Infelizmente, como todos nós sabemos, neste caso um era indissociável do outro e o fim é de conhecimento de todos. Ainda assim, a sua ultima musica é capaz de nos emocionar tão fortemente como se estivéssemos ali, pertinho e nos despedindo dele. Seja na versão de Austin Butler ou no vídeo original, um Elvis ofegante sentado a frente do piano tocando e cantando “Unchained Melody” é de arrepiar.
Elvis me remete, de imediato, a outra brilhante cinebiografia musical, Ray, filme de 2004 estrelado por Jamie Foxx. O desenvolvimento é muito semelhante, os percalços parecidos, e quando faço esta comparação é da forma mais positiva possível. Ambos os filmes tem o poder de reviver essas lendas e fazer com que uma nova geração tenha a oportunidade de conhecer essas músicas perdidas no passado.
Esse filme é a prova viva de que Elvis não morreu!
Filme: Elvis Elenco: Austin Butler, Tom Hanks, Olivia DeJonge, Helen Thomson, Richard Roxburgh, Kelvin Harrison Jr., Kodi Smit-McPhee, David Wenham Direção: Baz Luhrmann Roteiro: Baz Luhrmann, Sam Bromell, Craig Pearce, Jeremy Doner Produção: Estados Unidos, Austrália Ano: 2022 Gênero: Biografia, Drama, Musical Sinopse: Desde sua ascensão ao estrelato, o ícone do rock Elvis Presley mantém um relacionamento complicado com seu enigmático empresário, Tom Parker, por mais de 20 anos. Classificação: 14 anos Distribuidor: Warner Bros. Pictures Streaming: Indisponível Nota: 8,3 *Estreia dia 14 de julho de 2022 nos cinemas* |
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