CRÍTICA – BONS COMPANHEIROS

CRÍTICA – BONS COMPANHEIROS

Confesso que nunca havia assistido a um filme inteiro do Jackie Chan. Sempre vi apenas trechos. Seja num bar bebendo cerveja e olhando furtivamente para TV, seja na frente de uma loja de eletrodomésticos esperando o ônibus chegar. Lembro do dia que o controle remoto caiu da minha mão (pela enésima vez) e quebrou definitivamente. Não podia trocar de canal sem ter que levantar do sofá e acabei assistindo ao terço final de “A Hora do Rush”. Não me sinto, portanto, com autoridade suficiente para dizer o que achei de “Bons Companheiros”. Um filme que traz referências de outros filmes do ator, que também foi dublê. Se conhecesse mais a sua obra, o filme em questão teria feito outro sentido para mim. Tanto faz, então, se gostei ou não. Minha opinião pouco importa diante da legião de fãs do ator chinês. Sim. Jackie Chan tem, aparentemente, inúmeros fãs. A sala de cinema, pelo menos, estava cheia, com público bastante variado.

“Bons Companheiros” é um melodrama. E como todo filme enquadrado nesse gênero, ele tem muitos clichês. O mais destacado deles é a reaproximação de Lou (Jackie Chan) com a filha. Por conta do trabalho exaustivo como dublê, afastou-se dela em algum momento da vida e agora luta para reconectar-se com a garota.

Por outro lado, a relação de afeto e amizade que Lou mantém com Ventania, o cavalo, é também uma relação de exploração e dependência. No arco de construção e desenvolvimento do personagem vemos uma transformação gradual e uma tomada de consciência da necessidade de romper o ciclo de exploração — rompimento pressionado sobretudo pela filha —, e que acaba fazendo Lou aposentar definitivamente seu cavalo; o animal já não tem mais condição de seguir trabalhando.

E há, claro, as cenas clássicas de luta nas quais Jackie Chan é, sem dúvida, um mestre inigualável. A respeito delas gostaria de me deter um pouco mais porque, confesso, adoro uma briga, principalmente briga de soco. Provavelmente por ter participado de algumas quando era garoto. Brigas em que apanhei muito, mas bati muito também. Aliás, acho que todo menino saudável deveria entrar numa dessas um dia. Não importa se para bater ou se para apanhar. As brigas de soco servem para se vingar, mas também fazem parte do processo de amadurecimento, de conhecer seus próprios limites, de testar o quanto cada um dos contendores suporta de dor física e o quão corajosos podem ser. Fazem parte, no limite, do longo e penoso processo de transformação dos meninos em homens. Sei que para muitos soa antigo e idiota, mas é algo que segue fazendo sentido para mim quando olho em retrospecto.

As cenas de luta de Jackie Chan são divertidas porque são sempre muito bem filmadas. Acredito que o segredo consista na coreografia exaustivamente ensaiada e na sabedoria, que vem com a prática continuada, na definição da posição da câmera e do enquadramento, facilitando o trabalho do editor, outro mestre, esse do ritmo, que imprime velocidade e destreza extraordinária na construção da cena. Estou seguro que o fã de Jackie Chan é fã, sobretudo, dessas cenas de luta que tiram o fôlego de qualquer um.

“Bons Companheiros” peca pelo excesso de música sentimental e por esticar demais, desnecessariamente, a sequência final. Confesso que cheguei a ficar irritado. Mas acerta quando evoca outros filmes do ator, atualizando para o espectador jovem a longa filmografia de Jackie Chan.


Filme: Long ma jing shen (Bons Companheiros)
Elenco: Jackie Chan, Haocun Liu, Kevin Guo, Yueting Lang, Andy On, Hang Su, Jing Wu, Shenyang Xiao, Xing Yu, Ailei Yu, Rongguang Yu, Joey Yung
Direção: Larry Yang
Roteiro: Larry Yang
Produção: China
Ano: 2023
Gênero: Comédia, Ação, Drama
Sinopse: O dublê fracassado Luo mal consegue sobreviver e muito menos cuidar de seu amado cavalo. Luo relutantemente busca a ajuda de sua filha afastada e do namorado dela, que é advogado, quando notificado de que o cavalo pode ser leiloado para cobrir suas dívidas. Inesperadamente, Luo e seu cavalo se tornam uma sensação da mídia da noite para o dia quando sua luta na vida real com cobradores de dívidas se torna viral. Assim, Luo tem uma segunda chance de escolher entre sua carreira de dublê e sua família.
Classificação: 12 anos
Distribuidor: A2 Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 6,5

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