CINEALTER 2023 – UMA MULHER PENSANDO

CINEALTER 2023 – UMA MULHER PENSANDO

Uma Mulher Pensando (Thuë Pihi Kuuwi, 2022) é um documentário em curta-metragem dirigido por Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami. Narrado por Aida, o curta propõe um olhar através das tradições de uma comunidade Yanomami. O filme será exibido no CineAlter, na mostra competitiva Samaúma, neste sábado, 04 de novembro.

As primeiras imagens deste curta-metragem exibem a floresta amazônica no centro da aldeia Watoriki, terra indígena povoada pelo povo Yanomami. A seguir, podemos visualizar duas moças indígenas, uma delas segurando um bebê. A partir disso, ouvimos a narração de Aida Yanomami, que se questiona acerca de muitos assuntos enquanto observa o xamã de sua aldeia preparar a yãkoana, alimento dos xapiri (espíritos).

Há, nessa narrativa de questionamentos, pontos importantes relativos à vida em uma comunidade indígena. Pela visão de Aida, o enredo de Uma Mulher Pensando explora assuntos como crença e fabulação acerca daquilo que não se pode ver. Enquanto se questiona, Aida imagina: será possível um dia ser capaz de ver o mundo dos espíritos, caso venha a ter contato com a yãkoana?

O balanço da voz suave da narração nos leva a imaginar junto com sua questionadora. A filmagem em perspectiva de ponto de vista simula uma experiência de estar ali, como aquela que questiona. Sendo mulher, essa imersão traz ainda mais sentido à narrativa, uma vez que o olhar da narradora se concentra, em grande parte do filme, no xamã de sua aldeia, uma figura que tradicionalmente é representada por um homem.

Ao final, assim como a mensagem exibida nos minutos de encerramento de Uma Mulher Pensando, somos tomados pelo fato de que os povos indígenas – neste caso, os Yanomamis – são exatamente como nós, que estamos de fora. A nota final do curta-metragem discorre sobre o que deveria ser o óbvio, mas que se tenta esconder a qualquer custo.

Assim como podemos ver através desse pequeno filme, pessoas indígenas vivem suas vidas da mesma maneira que qualquer outra pessoa e se questionam – cada vez mais – sobre os papeis desempenhados em sua sociedade. O fato de o roteiro do filme utilizar sempre o verbo pensar é um grande acerto. Pensar é existir, e existir é resistir. Assim podemos ler o discurso através das falas de Aida.

Uma Mulher Pensando explora, através do olhar de uma jovem mulher indígena, questões relacionadas ao fato de ser uma mulher em uma comunidade tradicionalmente liderada por homens, mas não se resume somente a isso. Seu olhar é muito sobre a comunidade e o que se tem feito dentro dela. A mata, os rituais, o ato de moer e queimar a yãkoana. Em uma fração pequena de tempo, somos apresentados a todo o funcionamento dentro dessa aldeia que hoje é composta por cerca de somente 30 mil pessoas.

O apelo desse curta-metragem está naquilo a que se propõe, o olhar. Ao filmarem em seu lar, esses diretores nos convidam a vê-los. Não pelo olhar que a mídia costuma impor aos povos originários, mas como eles são de fato. Não há nada fora da “realidade” em seus modos de viver em comunidade. Produzir um filme como este é resistir em um país que lhes toma cada vez mais e assistir, valorizar e – principalmente – respeitar o que está sendo produzido pelos povos indígenas é nosso dever moral.


  Filme: Thuë Pihi Kuuwi (Uma Mulher Pensando)
Elenco: Aida Harika Yanomami
Direção: Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami.
Roteiro: Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami.
Produção: Brasil
Ano: 2022
Gênero: Documentário
Sinopse: Uma mulher Yanomami observa um xamã durante o preparo da yãkoana, alimento dos espíritos. A partir da narrativa de uma jovem mulher indígena, a yãkoana que alimenta os xapiri e permite aos xamãs adentrarem o mundo dos espíritos também propõe um encontro de perspectivas e imaginações.
Classificação: Livre
Distribuidor: Aruac Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 8,5

Sobre o Autor

Share

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *