CRÍTICA – DURVAL DISCOS

CRÍTICA – DURVAL DISCOS

Uma Jornada Nostálgica dos anos 2000

Por: Kim Gomes | Letterboxd

No cenário cinematográfico brasileiro, Anna Muylaert emergiu como uma diretora talentosa em seu primeiro longa-metragem, “Durval Discos”. Recentemente remasterizado e relançado nos cinemas em 2023, o filme traz consigo não apenas a promessa de uma experiência nostálgica, mas também a oportunidade de revisitar a habilidade única de Muylaert em transportar o espectador para ambientes tão bem elaborados quanto a vintage loja de discos que serve como pano de fundo para esta narrativa.

Ao considerarmos a crescente nostalgia pelos anos 2000, o relançamento de “Durval Discos” em 2023 ganha um significado adicional. A remasterização do filme oferece não apenas uma oportunidade de revisitar uma obra emblemática, mas também de mergulhar nas memórias de uma era passada. A capacidade do filme de capturar a essência dos anos 2000 torna-se um convite à reflexão sobre como o tempo molda nossa percepção e apreciação artística.

A maestria de Muylaert é evidente desde os primeiros minutos do filme, onde sua habilidade em direção se manifesta na construção meticulosa de cada cena. A ambientação é aplicada habilmente que torna o público imerso na atmosfera da casa e da loja de discos, revelando a capacidade da diretora em contar histórias através da estética visual. A trilha sonora, não surpreendentemente devido ao nome do filme, é um destaque marcante, evocando os anos 2000 que ressoam profundamente entre os espectadores brasileiros. Cada nota é cuidadosamente escolhida e se encaixa harmoniosamente com a proposta de cada cena, elevando a experiência sensorial do filme.

O elenco entrega performances sólidas, proporcionando uma ancoragem emocional ao enredo. No entanto, é no roteiro que “Durval Discos” revela suas fragilidades. O primeiro e segundo ato, marcados por uma monotonia desconcertante, exploram uma dinâmica mãe-filho que se perde em tentativas de profundidade, em que uma é incapaz de abandonar a maternidade e o outro não sabe tomar decisões por conta própria. Personagens inicialmente insuportáveis desafiam a paciência do espectador, resultando em uma busca desesperada por um elemento cativante. É surpreendente que ninguém abandone esse filme durante sua primeira hora.

É apenas no midpoint que o filme encontra seu verdadeiro propósito, introduzindo uma reviravolta chocante que revitaliza a trama. No entanto, a promessa desse momento crucial é temporária, pois nos minutos seguintes, o enredo retorna à dinâmica mãe-filho. Embora agora enriquecido por esse toque especial e inesperado, esse acréscimo não é suficiente para elevar a narrativa a um patamar verdadeiramente envolvente.

“Durval Discos” é uma obra que, apesar de seus altos e baixos, brilha na competência técnica de Anna Muylaert. Seu domínio da direção e a cuidadosa escolha da trilha sonora são testamentos de sua visão artística. No entanto, a irregularidade do roteiro, especialmente nos atos iniciais, impede que o filme alcance todo o seu potencial. O relançamento em 2023 oferece uma oportunidade valiosa para os espectadores revisitarem ou visitarem pela primeira vez não apenas a narrativa, mas também a atmosfera única que os anos 2000 proporcionam e que tornou “Durval Discos” uma peça memorável do cinema brasileiro.


Filme: Durval Discos
Direção: Anna Muylaert
Roteiro: Anna Muylaert
Elenco: Ary França, Etty Fraser, Marisa Orth, Letícia Sabatella, Isabela Guasco, Rita Lee
Produção: Brasil
Ano: 2002 (Remasterizado 4K – 2023)
Gênero: Comédia, Drama.
Sinopse:
Durval mora com sua mãe no local onde também funciona uma loja de discos, a Durval Discos. Devido ao cansaço da mãe, eles contratam uma empregada que aceita trabalhar por apenas 100 reais. Contudo, alguns dias depois ela desaparece, deixando para trás uma menina e um bilhete, pedindo para que eles cuidem da garota por dois dias. Os dois acolhem a jovem, mas acabam tendo uma grande surpresa.
Classificação: 12 anos
Distribuidor: Indisponível
Streaming: Globoplay
Nota: 5,0

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