CRÍTICA – O CHAMADO 4: SAMARA RESSURGE

CRÍTICA – O CHAMADO 4: SAMARA RESSURGE

A franquia O Chamado (Ringu/The Ring) é uma das mais conhecidas pelos fãs do terror no cinema. A história amaldiçoada de Sadako (conhecida nos remakes americanos como Samara) é derivada de um mangá de dois volumes, publicado em 1998 no Japão. O primeiro filme da franquia japonesa é também de 1998, com direção de Hideo Nakata e é um dos meus favoritos do gênero. A versão americana que conta com Naomi Watts como protagonista é uma boa adaptação, porém, o terceiro filme, Rings (2017) não vale a pena nem mencionar. Há ainda uma versão sul-coreana do filme, que conta com Bae Donna no papel do fantasma vingativo.

O Chamado 4: Samara ressurge (Sadako DX, 2022) é o filme mais novo dessa franquia que parece não ter hora para acabar. Há uma pequena confusão com os títulos, pois O Chamado 4 se trata de um filme japonês, que de certa forma nada tem a ver com as versões americanas. Para falar a verdade, essa produção parece não ter nada a ver com nenhuma das outras versões da história. É claro que, em essência, ainda temos algum resquício da narrativa original. Infelizmente, a maldição da fita em VHS não tem muito lugar em um mundo moderno como os dos dias atuais.

Grande parte da mudança está no fato de a maldição não ter mais a duração de sete dias. Aqui, não há uma ligação de Samara/Sadako para nos avisar de nosso destino fatídico. A forma de aviso nessa nova maldição é até bem elaborada, porém o charme old school das fitas de vídeos faz falta. Em um mundo onde tudo se dá de forma apressada, não há tempo para sete dias de espera e aqui, a maldição dura somente 24 horas, e é nisso que a protagonista dessa história se encaixa.

Há, em O Chamado 4, uma espécie de embate entre ciência e espiritualidade. Enquanto Ichijo – uma jovem com QI acima de 200 – é cética quanto a maldições, o mestre espiritual Kenshin é conhecido em todo o país por seus ensinamentos e exorcismos de objetos amaldiçoados. Os caminhos destes dois personagens se encontram quando várias mortes sem causa aparente estão sendo notificadas no país, a partir disso, histórias na web começam a circular sobre uma antiga maldição de 20 anos atrás. Assim, a curiosidade acerca desta maldição e sua história começam a atiçar pessoas de todo o tipo no Japão.

Ichijo e Kenshin se encontram em um programa de auditório para debaterem a maldição e ela explica, de maneira muito lógica, como tais coisas não existem e momentaneamente ela vence o embate com o mestre espiritual, até que sua irmã mais nova assiste o vídeo amaldiçoado e começa a ver coisas que ninguém mais consegue, levando Ichijo a uma busca contra o tempo para reverter a condição de sua irmã.

Um dos grandes erros na narrativa de O Chamado 4 está em o filme não saber ao certo para qual lado apontar. Há, aqui, muitos momentos de tentativa de levar para o cômico, o que, a meu ver, não dá muito certo. A todo momento existem pequenos “sustos” que não se dão pelo terror, mas por algum personagem gritando aleatoriamente em um lugar silencioso ou um celular extremamente alto tocando. Até o vídeo amaldiçoado foi alterado para essa versão para um muito mais curto e com poucas pistas da história de Samara/Sadako. O próprio fantasma é tosco e mal feito e parece uma caricatura de si mesmo. Há ainda, na parte cética da história, uma tentativa de explicar a maldição como se ela fosse um vírus, com estudos acerca de períodos de incubação e contágio da doença. Tudo para conseguir descobrir os objetivos do fantasma.

No meio de toda essa bagunça formada pelos personagens centrais, o verdadeiro motivo da maldição fica esquecido e pouco temos realmente da história de terror em que o filme se baseia. Uma das melhores partes no filme original está justamente na investigação da jornalista sobre a história de Samara/Sadako e sua família. Aqui, não se busca entender a maldição para tentar pará-la, o objetivo está em pará-la de qualquer jeito, e sabemos que em um filme de terror essa atitude não dá muito certo.

Ao se encaminhar para a última parte, as coisas conseguem ficar um pouco piores. Há nos minutos finais muito humor, e ainda que as cenas nos façam dar pelo menos alguns sorrisinhos, não acredito que este seria o objetivo dos criadores do filme. Na última batalha dos personagens centrais com Samara/Sadako, as cenas de ação são bastante bobas e o efeito especial no cabelo do fantasma é bizarro e um tanto trash. A água faz falta, uma vez que o espírito amaldiçoado esteve preso em um poço por todos esses anos. Em uma virada final, os mocinhos da história conseguem resolver sua situação com Samara/Sadako. Uma vez que não se pode derrotar seus demônios, talvez a melhor escolha seja conviver com eles pacificamente.

Enfim, acredito que um grande número de pessoas irá ao cinema por este filme, e acredito também que muitas delas irão gostar. Não é exatamente uma boa produção, porém, para aqueles com a mente mais aberta, imagino que irá causar algumas boas risadas, ainda que não seja esse o motivo central desta história amaldiçoada. O Chamado 4 é um daqueles filmes ruins que assistimos sabendo que é ruim, e que ainda assim não sentimos raiva ou ficamos – muito – arrependidos ao fim. O filme estreia nos cinema brasileiros em 27 de abril.


  Filme: O Chamado 4: Samara ressurge (Sadako DX)
Elenco: Fuka Koshiba, Kazuma Kawamura, Hiroyuki Ikeuchi, Yuki Yagi, Naomi Nishida
Direção: Hisashi Kimura
Roteiro: Yuya Takahashi
Produção: Japão
Ano: 2022
Gênero: Terror
Sinopse: Ichijo Fumika é uma estudante de pós-graduação com um QI de 200 que tenta investigar as estranhas mortes que acontecem em todo o país depois que essas pessoas supostamente assistiram a um vídeo amaldiçoado e sua irmã mais nova também fez o mesmo por curiosidade.
Classificação: 12 anos
Distribuidor: Paris Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 3,0

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