CRÍTICA – TRÊS MULHERES: UMA ESPERANÇA

CRÍTICA – TRÊS MULHERES: UMA ESPERANÇA

A Segunda Guerra Mundial parece ser um tema inesgotável na arte, seja no cinema ou em qualquer outra expressão artística. Isso não significa exatamente que todas as obras sobre este tema serão de grande qualidade, infelizmente.

Em Três Mulheres: Uma Esperança (Der verlorene Zug, 2022) de Saskia Diesing, acompanhamos as histórias de três personagens bastante distintas entre si e o laço improvável formado entre elas. Simone (Hanna van Vliet) é uma judia holandesa que é levada junto a outros prisioneiros em um trem até um vilarejo no interior da Alemanha, enquanto aguarda o anúncio do fim da guerra. Vera (Eugenie Anselin) é uma atiradora soviética que está encarregada dos ex-prisioneiros e Winnie (Anna Bachmann) é uma jovem alemã membro da juventude Hitlerista que vive no vilarejo onde esse trem desembarca.

Logo no início da obra somos apresentados a um cenário já conhecido em todo filme de guerra. Pobreza, alienação e doenças parasitárias se misturam a medida em que ex-prisioneiros e alemães se misturam também. Entre eles os soldados do Exército Vermelho nos são apresentados como homens ruins que abusam da população alemã, em especial das mulheres, em nome de uma superioridade sobre os “porcos” nazistas, em suas próprias palavras.

A história, ainda que seja sobre estas três personagens, parece ser centrada na jovem alemã Winnie e esse ponto é, talvez, um dos mais problemáticos do filme. Enquanto a maioria dos alemães tenta esconder todos os traços de adoração a Hitler, essa personagem se orgulha de ser uma jovem nazista e até se recusa a tirar seu uniforme. Quando seu caminho cruza com o de Vera e Simone, nenhuma das três parece favorável à convivência conjunta. Ainda assim, a situação as obriga a estarem próximas umas das outras e em pouco tempo uma espécie de “amizade” floresce entre elas, apesar da barreira do idioma (e de muitas outras também).

A problemática em torno de Winnie está no fato de haver quase que uma redenção para essa personagem. Acredito que haja motivos para que o roteiro do filme tenha sido feito dessa maneira, mas não imagino que o salvamento de uma jovem nazista fosse mais importante do que a história de uma ex-prisioneira dos campos de concentração.

Ao final do longa, há ainda uma mensagem de uma linha dedicando o filme a todos àqueles que sofreram durante a guerra. Me parece que o filme fala quase ou somente com os alemães, uma vez que a narração de Winnie e a exibição da invasão dos russos às casas dos aldeões os coloca em uma posição forçada de vítimas, ainda que enormes bandeiras nazistas estejam estendidas em suas janelas e varandas.

Para além disso, voltemos à relação entre essas três mulheres. Ainda que esse tipo de narrativa seja comum em filmes com esse tema, pouco há de contexto nessa união forçada que se torna “amizade”. Não há aprofundamento na história de nenhuma das três mulheres e nem delas como um “trio”. Em meio às suásticas do quarto onde Simone dorme com o marido doente e o trabalho de “cabeleireiras” removendo os parasitas dos cabelos dos ex-prisioneiros, as personagens que poucos minutos atrás se odiavam aparecem em seguida bebendo vodka, costurando juntas e “conversando” normalmente.

Há bastante confusão na narrativa de Três Mulheres e isso não se dá por ser um filme de difícil entendimento. Na verdade, não há profundidade em nenhum dos âmbitos da história. Há ainda um romance inserido de forma um tanto quanto aleatória e que não acrescenta em nada na trama. Muitas coisas ali poderiam ser contadas de forma diferente e isso diminui bastante a qualidade narrativa da obra.

Ainda que seja um filme relativamente curto, seus minutos passam lentamente e ao fim não sabemos exatamente qual era a intenção ou o que a obra gostaria de dizer ao espectador. Infelizmente falta vida ao roteiro de Três Mulheres. Nem mesmo o final “feliz” para uma delas é convincente, uma vez que não houve tempo de tela para identificação ou mesmo para se importar com essas personagens de tão rasa que foi sua apresentação.

Acredito que se a personagem de Simone fosse mais bem explorada, ao invés de Winnie, teríamos uma história contada de outra forma e com mais conteúdo de identificação para o espectador, sem a necessidade do uso de cenas apelativas e melodramáticas em uma história que em nenhum momento se mostrou dentro desse gênero. Por fim, resta dizer que Três Mulheres: Uma Esperança não é uma experiência das mais frutíferas, ainda que acredite que essa temática vá levar algumas pessoas a assisti-lo.


  Filme: Der verlorene Zug (Três Mulheres: Uma Esperança)
Elenco: Hanna van Vliet, Anna Bachmann, Eugenie Anselin, Bram Suijker, Konstantin Frolov.
Direção: Saskia Diesing
Roteiro: Saskia Diesing
Produção: Alemanha, Holanda, Luxemburgo
Ano: 2022
Gênero: Drama, Guerra, História
Sinopse: Nos dias finais do tumulto da Segunda Guerra Mundial, soldados alemães abandonam um trem de deportação cujo destino seria cruzar com tropas russas avançando. O encontro casual entre a desconfiada garota alemã Winnie, a corajosa judia holandesa Simone e a destemida atiradora russa Vera leva a uma amizade inesperada.
Classificação: 14 anos
Distribuidor: A2 filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 5,0

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