ERA UMA VEZ UM GÊNIO

ERA UMA VEZ UM GÊNIO

Era uma vez um gênio, tradução de Three Thousand Years of Longing, é uma história introspectiva de amor e fantasia que, mesmo que não agrade a todos, fazia falta nos cinemas. Acredito que o único empecilho para ter uma boa experiência assistindo o filme é entrar na sala com expectativa. O fato de ser dirigido pelo versátil George Miller e protagonizado por Tilda Swinton e Idris Elba, enormes talentos, já me dizia que tinha algo de especial na obra.

Porém, já adianto: não é nada revolucionário ou tão fora da curva como por exemplo Tudo em Todo lugar ao mesmo tempo, filme do mesmo ano que cativou espectadores do mundo inteiro. No entanto, assim como Tudo em Todo Lugar, é possível aproveitar o filme quando nos desprendemos de expectativas e adentramos na jornada introspectiva de Alithea.

Entramos em seu mundo a partir de sua narração. Conhecemos a historiadora e especialista em narratologia não só por sua narração, mas também a partir da fotografia. Com a presença margens trêmulas quando esta tem visões confusas, e de diversos planos ponto de vista e close-ups nesses momentos, fica mais fácil se aproximar da protagonista. Desde o início do filme ela aparece sozinha, mesmo em lugares cheios de pessoas.

Assim que chega em outro país para um congresso, começa a ter visões e atrela a sua imaginação fértil e vasto conhecimento. Porém, ao abrir um artefato antigo, um gênio é liberado, lhe concedendo três desejos.

O mais interessante é a reação de Alithea ao gênio e à sua proposta. Ela não parece tão surpreendida pela criatura mágica ter invadido seu quarto de hotel, e também nega os desejos, afirmando estar contente com a vida que tem.

Eles conversam no quarto de hotel em que está hospedada e o gênio conta suas histórias de aprisionamento que se manifestam a partir de flashbacks de diversas épocas históricas do mundo, intercalando com seu diálogo com Alithea. No começo, essa dinâmica parecia super interessante, porém, se mostrou um pouco repetitiva até a conclusão final de Alithea após ouvir todas as histórias. A novidade, aqui, era que o gênio pedia mais do que a felizarda que garantiu 3 desejos.

Faltando 30 minutos pra acabar a sensação era de que ia virar um “tudo em todo lugar ao mesmo tempo” – claramente a autora desse post está obcecada com este filme, que tem crítica aqui no site, inclusive – que ia dar uma virada de chave no filme e ele ia se desenvolver de forma completamente original, mas fiquei esperando. A sensação era de inacabado, como se fosse acabar no 2o ato.

No entanto, há um questionamento que surge nesses últimos minutos, que abre diversas interpretações, e que eu não darei spoiler 😅, mas que se amarra com uma história da própria Alithea no início de seu diálogo com o Gênio, sobre seu amigo que sumiu quando era criança.

Minha maior impressão foi a de que o filme que se refere a ele mesmo; se trata de um conto sobre contar histórias. Sobre pessoas que usam histórias para fugir da própria realidade, para se entreter, para ter uma companhia. E isso achei admirável, e parte fundamental do romance entre Alithea e o Gênio, que começa após ela realizar seu único desejo: que ele a ame.

O gênio parece uma projeção sobre tudo o que ela amaria ter em um parceiro. Mas, quando este começa a padecer, a própria protagonista percebe que pedir pra ser amada transcende qualquer poder; que é uma coisa que deve ser dada de graça.

Em resumo, me diverti assistindo ao filme. Fazia falta um filme de fantasia nesse estilo. Alguns podem achar pretensioso, mas acredito que ele está aberto a todo tipo de interpretação, o que só o torna mais interessante.


Filme: Three Thousand Years of Longing (Era Uma Vez Um Gênio)
Elenco: Tilda Swinton, Idris Elba, Pia Thunderbolt, Berk Ozturk, Anthony Moisset, Alyla Browne, Abel Bond, Peter Bertoni, Lianne Mackessy
Direção: George Miller
Roteiro: George Miller, Augusta Gore, A. S. Byatt
Produção: Estados Unidos, Austrália
Ano: 2022
Gênero: Drama, Fantasia, Romance
Sinopse: Enquanto participava de uma conferência em Istambul, a Dra. Alithea Binnie (Tilda Swinton) encontra um “djinn” (Idris Elba), o que no ocidente, é comumente denominado como “Gênio”. A criatura lhe oferece três desejos em troca de sua liberdade, e isso apresenta dois problemas: primeiro, ela duvida que ele seja real, e segundo, por ser uma estudiosa de histórias e mitologia, ela conhece todas as histórias de advertência sobre desejos que deram errado. O djinn defende seu caso contando histórias fantásticas de seu passado e, eventualmente, ela é seduzida e faz um desejo que surpreende os dois, o que leva a consequências que nenhum dos dois esperava.
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Paris Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 7,0

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