I WANNA DANCE WITH SOMEBODY – A HISTÓRIA DE WHITNEY HOUSTON

I WANNA DANCE WITH SOMEBODY – A HISTÓRIA DE WHITNEY HOUSTON

Qual o preço da fama?  Essa pergunta ainda hoje, por mais que saibamos a resposta, continua sendo negligenciada. Quantos artistas, quantos talentos foram perdidos devido, direta ou indiretamente, à fama? O que impressiona, também, é a heterogeneidade dos personagens, mas com suas histórias tão comuns umas as outras. Em julho deste ano o longa Elvis (crítica aqui), dirigido por Baz Luhrmann e protagonizado por Austin Butler, já mostrava o poder destrutivo da indústria da música e em como os agentes dessa indústria sugam absolutamente tudo daqueles que estão em evidência. Elvis morreu por conta de uma arrogância criada nele por terceiros, ao fazê-lo se imaginar indispensável para seu público. Isso sem contar os por menores dessa história, contada no filme, que dá vários nomes aos reais culpados, sendo um deles o próprio Elvis, evidentemente.

I Wanna Dance With Somebody desenvolve uma história muito similar, trocando apenas o personagem central. Sai Elvis e entra Whitney Houston. O roteiro passa pela descoberta da cantora, sua ascensão, seu sucesso ao emplacar cada novo single, sua queda relacionada a falta de estrutura emocional e física que uma vida frenética não a deixa ter, uma calmaria após a tempestade e, por fim, um último show. O roteiro é assinado por Anthony McCarten (Bohemian Rhapsody) e, assim como no filme sobre a banda britânica Queen, aqui em I Wanna Dance With Somebody o roteiro se apropria da imagem de Whitney Houston e desenvolve muito pouco tudo aquilo que mostra em tela. Contudo mesmo com um roteiro pouco inspirado o filme consegue funcionar e isso se deve ao simples fato do filme ser sobre “A Voz” – como Whitney Houston também era conhecida.

Se elogios precisam ser feito, nada mais justo do que direcioná-los à atriz Naomi Ackie. Muito embora todo o elenco esteja em alto nível neste longa, é Ackie quem incorpora Houston, tal qual Butler fez com Elvis. O fato dela não cantar no filme – a voz de Whitney Houston é usada aproximadamente em 95% das partes de canto – não diminui em nada o sentimento que temos ao experimentar cada apresentação dentro do filme. Nesse ponto, nas escolhas das musicas que fariam parte do longa, há um grande acerto do roteiro e da direção, sobretudo em como casam com a fase e o sentimento da cantora. Mas, como disse, a previsibilidade do roteiro faz com que saibamos qual, por exemplo, será a música tocada na última cena do filme.

Ackie, depois de um processo de 8 meses para viver Houston, preenche a tela com seus maneirismos e simpatia que, desde os primeiros minutos, cativa o público que a assiste. I Wanna Dance With Somebody é uma experiência, a qual parece estarmos a frente da história real, com a própria Whitney Houston a nossa frente. Só nos damos conta de que é uma representação quando os créditos finais começam a subir. Evidente que tal feito tem como justificativa a entrega total de Ackie bem como de pelo menos 4 outros atores: Tamara Tunie (Cissy Houston), Nafessa Williams (Robyn Crawford), Clarke Peters (John Houston) e Stanley Tucci (Clive Davis).

O elenco que rodeia Naomi Ackie serve, realmente, como um apoio para cada fase vivida de Whitney Houston. No inicio do filme a vemos compartilhando tela com sua mãe Cissy, logo depois conhece Robyn Crawford e quando é descoberta – em uma cena lindíssima de puro amor materno – passa a marcar presença um dos personagens mais carismáticos desta obra, Clive Davis. Por fim, como um marco na vida de Houston de uma pressão machista e violenta sofrida por ela, está o personagem John Houston, seu pai.

Bobby Brown, interpretado pelo ator Ashton Sanders, possui momentos dedicados à sua relação com Houston e seu casamento com ela, entretanto, a não ser pelo fato dele ser uma representação do pai dela e, assim, permanecer em uma posição de poder, tal qual John Houston perpetuou na criação da filha, é um personagem que carecia de mais tridimensionalidade. Acabou apresentando um personagem de uma nota só.

Os prêmios, a carreira de sucesso e a eternização de um nome fazem jus a quem foi Whitney Houston e nesse ponto o filme encara com muita responsabilidade. Há quem possa se surpreender – assim como eu – com alguns fatos da vida particular de Houston, como por exemplo sua relação com Robyn. Há, também, alguns momentos de grandes lacunas quando em determinada parte do filme Cissy Houston, mãe de Whitney, some por completo, só voltando a aparecer depois de muito tempo. Mas se no roteiro possui falhas, sobra destreza na direção. A começar pela câmera utilizada cada vez mais próxima do rosto de Ackie, principalmente, quando ela está próxima de “desmoronar”, demonstrando assim toda a pressão, todo o sentimento de claustrofobia provocado por aquela clausura da fama, do sucesso. Não diferente, há dois momentos que evidenciam a qualidade da diretora Kasi Lemmons. A primeira delas é o uso do espelho em duas cenas, sendo que a primeira, no momento do casamento, Whitney Houston, olhando para seu reflexo, responde, em tese, para Robyn, quando na verdade a resposta é para ela mesma e, assim, se repete em um outro momento quando está no meio de uma discussão entre Robyn e Bobby. Mas é a utilização da cor amarela na casa em que Whitney morou com Robyn, e na roupa usada por sua filha, Bobbi Kristina, quando a vemos pela primeira vez junto a sua mãe em uma viagem, que representa nada mais que o amor, o afeto, um local seguro.

Whitney Houston travou grandes batalhas entre ser quem era e quem queriam que ela fosse. Seu desejo era um só, cantar. E assim se sentiria livre. Mas como dito no inicio dessa crítica, a fama sempre cobra um preço alto demais, sobretudo a quem não possui suporte. Esta base, mesmo tendo Robyn, Cissy e Clive em sua vida, não foi suficiente para faze-la vencer as drogas, elemento que a puxou cada vez mais para o fundo.

I Wanna Dance With Somebody é um filme que desperta muitas emoções e toca, com suas músicas, em lembranças muito boas dessa artista ímpar. Lemmons faz uma bela homenagem para Whitney Houston mesmo tocando em pontos que poderiam diminui-la, mas sua capacidade em elevar suas qualidades e minimizar seus “defeitos” faz toda a diferença nesse drama musical. É com certeza uma boa pedida para o fim de semana que chega, já que sua estreia nos cinemas está prevista para esta quinta-feira, dia 12 de janeiro de 2023.


Filme: Whitney Houston: I Wanna Dance with Somebody (I Wanna Dance with Somebody – A História de Whitney Houston)
Elenco: Naomi Ackie, Stanley Tucci, Ashton Sanders, Tamara Tunie, Nafessa Williams, Clarke Peters, Kris Sidberry, Daniel Washington
Direção: Kasi Lemmons
Roteiro: Anthony McCarten
Produção: Estados Unidos
Ano: 2022
Gênero: Drama, Biografia, Musical
Sinopse: I Wanna Dance with Somebody: A História de Whitney Houston é uma poderosa e triunfante celebração da incomparável Whitney Houston. O filme é um retrato da complexa e multifacetada mulher por trás da voz. Da garota do coral de Nova Jersey a uma das mais recordistas e premiadas artistas de todos tempos, o público vai ser levado em uma jornada  emocionante pela vida e carreira de Whitney, com performances arrebatadoras e uma trilha composta pelos hits mais amados da diva. Você não quer dançar?
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Sony Pictures
Streaming: Indisponível
Nota: 7,9

 

*Estreia nos cinemas no dia 12 de janeiro de 2023*

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