O DEBATE

O DEBATE

O Debate é um filme atual. E quando eu digo atual, quero dizer que realmente ele é muito próximo de nós. Ele foi rodado em 40 dias e sua pós-produção em 20. Seu roteiro teve cenas inseridas de um dia para o outro ou até no mesmo dia das gravações, baseado sempre nas notícias políticas dos jornais da vida real. E é desse cenário político tão recente e tão próximo de nós que o filme parte. O longa traça um diálogo entre um casal de jornalistas vividos por Débora Bloch e Paulo Betti, que estão em conflitos conjugais em meio a um suposto debate entre Lula e Bolsonaro nas vésperas do segundo turno das eleições.

Certamente, o encanto do filme está nos diálogos. O jogo entre os personagens é delicioso de assistir. Essa discussão sobre os mais variados temas da política brasileira diante dos pontos de vista de cada um nessa importante e decisiva eleição tinha tudo para ser cansativa, mas não é. O texto de Jorge Furtado, que, na minha opinião, é um gênio, juntamente com Guel Arraes, é objetivo, claro e muito bem articulado. A estreia de Caio Blat na direção também é muito boa, ao levar em conta a pretensão deste projeto e o tão pouco tempo para executá-lo. Essa dinâmica é divertidíssima de assistir. Temas como vacinas, ciência, democracia, urnas eletrônicas, aborto, corrupção e armas são abordados através de diferentes argumentos ao mesmo tempo em que a realidade do casal é confrontada com assuntos sobre traição, relações abertas, frequência sexual e muitos outros. Se o pano de fundo é a política, os personagens falam direta e indiretamente de amor. Quase como se a nossa relação com esse sistema fosse uma relação conjugal.

A importância desse filme no Brasil de hoje é, principalmente, a troca argumentativa. Sem brigas ou mortes. Argumentos. Convencimento. O interessante é justamente as diferenças de pensamento entre os protagonistas e como cada um argumenta a favor de sua ideologia. A ética jornalística é crucial nesse momento, levando em conta que ambos trabalham no mesmo jornal, sendo um conflito atrativo aos olhos de um espectador curioso. 

Ao assistir, percebe-se que se trata de Lula e Jair Bolsonaro, mas, em momento algum, eles dão nome aos bois. Acredito que por receio de uma rejeição por parte do público. Pensando nisso, parece ser uma decisão inteligente. O filme trata sobre a política na sua mais natural realidade. Não só uma política de hoje em dia, mas como ela sempre foi. Seja no Brasil de hoje ou num Brasil futuro. Seja fora do país. Quem assistir vai se identificar e automaticamente vai relacionar a algo ou alguém. 

O Debate é dinâmico, ágil, com texto afiado e de uma bagagem ímpar. Aquele tipo de filme que, antes de qualquer eleição, você quer mostrar aos seus amigos, parentes e todo mundo que puder. Para o tempo e o ritmo em que foi feito, é excelente. Sinto falta de certos aprofundamentos, mas tudo surge de forma muito descomplicada, como uma conversa mesmo. Ao levar em conta o recente processo eleitoral, ele deixa no ar um desejo de mudança que o Brasil tanto anseia.

Filme: O Debate
Elenco: Débora Bloch, Paulo Betti, Caio Blat, Elias Gabriel, Luisa Arraes, Tainá Neves
Direção: Caio Blat
Roteiro: Jorge Furtado, Guel Arraes
Produção: Brasil
Ano: 2022
Gênero: Drama, romance
Sinopse: Depois de um casamento de 20 anos, os jornalistas Paula e Marcos se separam. Enquanto discutem como devem seguir as suas vidas, eles testemunham um momento vital da história política do Brasil e nele se inserem a dois.
Classificação: 12 anos
Distribuidor: Downtown Filmes, Paris Filmes
Streaming: Não disponível
Nota: 8,6

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