CRÍTICA – PRETTY LITTLE LIARS

CRÍTICA – PRETTY LITTLE LIARS

Maldosas (2010-2017), mais conhecido como “Pretty Little Liars”, é uma série de televisão estadunidense do canal “Freeform” que adapta a série de livros de mesmo nome escrita por Sara Shepard. A “showrunner” da série era Marlene King que acabou colhendo bons frutos durante o período dourado da série, mas perdeu sua relevância quando o enredo enfraqueceu e a qualidade da série decaiu nas suas últimas temporadas.

Os maiores erros dessa adaptação estão relacionados ao ponto chave do enredo. O livro e a série escolheram cada uma um foco de tema diferente e isso foi capaz de separar narrativamente as duas. O seriado focou no gênero de mistério e suspense e deixou de lado o desenvolvimento das personagens. A série tinha um interesse muito maior em relação a “A” do que suas protagonistas. Dessa forma, a história que nos livros tem uma grande força dramática, acabou perdendo na série depois da primeira revelação de “A” como Mona. Enquanto os livros dão um enfoque maior nas personagens, suas vidas, desejos e dificuldades, a série se tornou ao passar dos anos cada vez mais obcecada por “A”.

Essa obsessão por “A” cresceu proporcionalmente com o sucesso de episódios temáticos onde “A” tinha o maior destaque da trama, como os de “Halloween” (Dia das Bruxas). Esses são os episódios mais comentados pelos fãs e podem ser assistidos em qualquer ordem, até por pessoas que não acompanham a série. São episódios onde o foco maior da trama se envolve em “A”: o que de macabro “A” vai fazer? O que “A” está armando? As personagens irão conseguir escapar de “A”? Qual o plano de “A” para esse episódio temático de “Halloween”? Tais perguntas empolgantes funcionavam nesses episódios tão bem como um chamariz para a série e repercussão do episódio entre a audiência que parece que a “showrunner” e sua equipe decidiram se prender a esse aspecto da história para todo o resto da série. Dessa forma, existiam episódios e arcos de personagens inteiros focados apenas no que “A” fez de terrível contra as personagens e muito pouco enfoque no que aquilo afeta as personagens em sua integridade humana. Assim, elas começavam a perder o que as tornavam humanas e interessantes: suas histórias pessoais.

Mesmo que nos livros também existam muitos arcos de personagens completamente gerados pelos planos arquitetados por “A”, o foco maior desses arcos não é em “A”, como acontece no seriado, mas nas protagonistas. Perguntas geradas pela narrativa de “A” nos livros são: Como Emily irá lidar com essa informação? Spencer vai conseguir se reconciliar com sua família depois disso? Aria terá confiança em contar para as meninas o que a vidente lhe disse? Hanna vai conseguir encontrar uma forma de voltar para sua vida comum? E como tudo isso as afeta em sua vida pessoal? Como isso muda sua psique e visão de mundo? Além disso, durante todos esses arcos, “A” funciona como uma ferramenta que ajuda no crescimento narrativo das personagens e representa muito mais do que apenas um vilão controlador onipresente. Essa entidade narrativa funciona como uma representação de seus traumas, inseguranças, ansiedades e desejos.

Pensando nisso tudo, a escolha que a série fez em apresentar um “A” final que não tem relação alguma com as outras protagonistas e funciona mais como uma grande surpresa, demonstra como Marlene King e sua equipe não conseguiram, mesmo com anos de trabalho, aprender qual era o real significado de “A” para história. A série acabou decidindo que o vilão final, o último “A”, seria uma irmã gêmea, assim como no livro, mas não de Alison DiLaurentis, mas de Spencer Hastings, uma das protagonistas. Essa escolha não faz sentido em relação a história, já que “A” desde o começo sempre teve uma forte relação com Alison DiLaurentis.

Além de “A” ser muito relacionado a Alison, as protagonistas também são. Durante toda a última fase da série de livros, vemos como as personagens relembram diariamente sobre Alison, como sua amizade as mudou para sempre e tentam racionalizar tudo o que aconteceu desde o dia de seu desaparecimento. Emily tenta investigar essa história com o desejo de encontrar Alison viva, Hanna deseja reencontrar com Alison para receber sua aprovação, Spencer tem um grande desejo de descobrir quem matou sua amiga, pois ainda mora na rua onde o crime aconteceu, e Aria busca respostas até mesmo no sobrenatural. Todas essas formas de encontrar uma resposta para o que aconteceu, conseguem representar como as personagens lidam com esse trauma e luto. Dessa maneira, com o último “A” sendo uma pessoa idêntica a Alison, elas conseguem finalmente dizer adeus a esse passado doloroso e a memória de sua velha amiga. É como se a escolha por uma irmã gêmea fosse além do dramático, mas alcançasse um teor simbólico na trama.

Durante o último capítulo do livro vemos Emily enterrando suas memórias de Alison, desejando agora criar novas com Aria, Hanna e Spencer. Esse é um final forte, revelador e significativo para a personagem. Já o final de Emily na série é se casando com Alison (que na verdade nunca tinha morrido) e vivendo feliz para sempre. Essa escolha de final para uma das personagens que mais representa o tema de desejar ardentemente ser amado por alguém e não enxergar o amor ao seu redor acaba enfraquecendo a personagem e a série como um todo. É um final de contos de fadas, sendo que essas personagens não vivem em um conto de fadas.

Assim, a série jogou a oportunidade de adaptar uma história com alicerces fortes no lixo junto com a de se tornar um seriado relevante para a contemporaneidade. Ao escolherem o caminho mais fácil de agradar sua audiência com tramas extremamente felizes e que soam artificiais demais para crer, acabaram diminuindo a qualidade da obra televisiva. Espero que um dia essa série de livros receba uma adaptação que faça jus a sua história e consiga aprimorar seu enredo no formato audiovisual.


Série: Pretty Little Liars (Maldosas).
Elenco: Lucy Hale, Ashley Benson, Shay Mitchell, Troian Bellisarion e Sasha Pieterse. 
Criação: I. Marlene King.
Produção: Estados Unidos.
Ano: 2010 – 2017.
Gênero: Drama, Mistério e Suspense.
Sinopse: A série segue a vida de cinco melhores amigas cuja amizade se desfez após o desaparecimento de sua líder Alison. Um ano depois, as amigas afastadas Spencer, Hanna, Aria e Emily se reencontram e começam a receber mensagens de uma figura misteriosa chamada “A”, que ameaça expor seus segredos mais profundos.
Classificação: 14 anos.
Distribuidor: Warner Bros.
Streaming: Max.
Nota: 4,0

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