CRÍTICA – GHOSTBUSTERS: APOCALIPSE DE GELO

CRÍTICA – GHOSTBUSTERS: APOCALIPSE DE GELO

A proliferação de sequências, reboots e spin-offs em Hollywood é um fenômeno cada vez mais consolidado. Por um lado, é explícito que os estúdios busquem capitalizar o sucesso de franquias estabelecidas. No entanto, as continuações acabam, muitas vezes, se tornando meras réplicas que não acrescentam nada de substancial às obras originais, limitando-se a explorar o mesmo universo de forma superficial. Além disso, essa estratégia de franquias dominantes pode acabar suprimindo a diversidade e o espaço para novos conceitos e vozes no cinema. Quando os grandes estúdios concentram seus esforços nessas “válvulas comprovadas”, diminui o incentivo a projetos mais arriscados e experimentais. Ghostbusters: Apocalipse de Gelo

Esse é o contexto atual de Hollywood e da franquia ‘Os Caça-Fantasmas’, filme lançado originalmente em 1984 e, sem dúvidas, um grande sucesso de público e crítica. O filme ganhou uma continuação ainda nos anos 80 com basicamente o mesmo elenco. Em 2016, portanto, mais de 20 anos depois, Paul Feig dirige um reboot do filme, dessa vez centrado em protagonistas femininas. Mesmo assim, é um filme morno, que não consegue replicar o sucesso dos originais.

Mais recentemente, em 2021, a franquia ‘Os Caça-Fantasmas’ voltou às telas com ‘Ghostbusters: Mais Além’, uma continuação direta dos filmes clássicos, dessa vez dirigida por Jason Reitman, filho de Ivan Reitman, o diretor do primeiro longa. A presença de Bill Murray, Dan Aykroyd e Ernie Hudson, como participação especial, certamente foi um atrativo para os fãs nostálgicos. Mesmo assim, ‘Mais Além’ traz uma nova geração de protagonistas para conduzir a trama. A entrada desses novos personagens, como Phoebe e seu irmão Trevor (Finn Wolfhard), assim como Gary Grooberson (Paul Rudd) e Callie Spengler (Carrie Coon), como a mãe de Phoebe e Trevor, funciona como uma espécie de ponte entre o passado e o presente da saga. Eles herdam o legado dos caçadores de fantasmas originais, mas precisam descobrir seu próprio lugar nesse mundo sobrenatural.

Chega nas telas então, ‘Ghostbusters: Apocalipse de Gelo’, dirigido agora por Gil Kenan, responsável por ‘Poltergeist’, de 2015 e pela animação de 2006, ‘Monster House’. Chama a atenção o fato de que, na tradução para o português, os últimos dois títulos da série mantiveram o nome original em inglês “Ghostbusters”, ao invés de optar pela tradução literal “Os Caça-Fantasmas”. Surge naturalmente a questão: o que este novo filme terá a oferecer de especial e diferenciado? Será apenas mais uma tentativa de Hollywood de capitalizar sobre uma propriedade intelectual consolidada, explorando a nostalgia dos fãs? Ou haverá algo genuinamente novo e empolgante a ser apresentado, capaz de expandir os horizontes dessa amada saga cinematográfica?

Os novos Caça-Fantasmas retornam ao icônico quartel de bombeiros, onde seus predecessores estabeleceram a base de operações do grupo original. Seus antigos parceiros agora mantêm um avançado laboratório onde pesquisam profundamente sobre os espíritos. Ray Stantz (Dan Aykroyd), que administra uma loja de antiguidades possivelmente assombradas, acaba adquirindo uma esfera antiga contendo uma ameaça sobrenatural e a entrega para ser examinada. Porém, o que ninguém esperava é que essa entidade maligna acaba escapando do confinamento e passa a buscar desencadear uma segunda Era do Gelo sobre a cidade. Diante dessa nova crise paranormal, os novos Caça-Fantasmas se veem obrigados a unir forças com seus antecessores lendários para tentar deter essa poderosa ameaça fantasmagórica.

O aspecto mais cativante de “Ghostbusters: Apocalipse de Gelo” reside nos raros momentos em que o filme se aventura a explorar o drama da personagem Phoebe. Com seus 15 anos e na tumultuada fase da adolescência, Phoebe é impedida pelas autoridades de participar ativamente das operações. O filme opta por desviar o foco da equipe em certos momentos para acompanhar sua jornada, destacando os complexos sentimentos que permeiam a adolescência. Um desses momentos destaca sua solidão, quando ela faz amizade com a fantasma adolescente Melody, quase como se esta encarnasse seu próprio estado psicológico de se sentir como um “fantasma”. Algumas cenas chegam a ensaiar um romance entre as duas, embora de forma sutil e ambígua.

Essa trama envolvendo Phoebe representa o momento mais interessante do longa, pois foge da fórmula habitual da franquia Ghostbusters. Enquanto a ação e os elementos conhecidos, como o uso das Proton Packs, parecem repetir o que já foi visto anteriormente, o drama da personagem adolescente traz uma abordagem mais intimista, mais psicológica. Infelizmente, essa subtrama acaba sendo ofuscada pela previsibilidade da trama principal, não chegando a se desenvolver de forma tão aprofundada quanto o seu potencial sugeria.

Do ponto de vista da estrutura do roteiro e da linguagem, ‘Ghostbusters: Apocalipse de Gelo’ não traz grandes mudanças em relação aos filmes anteriores. Diferente do primeiro longa, este novo título retorna à metrópole para derrotar uma grande entidade sobrenatural, uma premissa bastante similar aos eventos dos filmes originais. Embora o apelo nostálgico esteja presente, desta vez ele parece ter um impacto menor. O foco parece estar na reintegração dos primeiros caça-fantasmas, mas essa premissa fica em segundo plano em comparação aos grandes conflitos épicos. No geral, o filme se baseia em fórmulas familiares, sem muito espaço para algo verdadeiramente diferente.

Mesmo diante da certa mesmice narrativa, algumas cenas ainda se mostram funcionais. Quando a entidade sobrenatural se liberta em um novo laboratório criado para o estudo dos fantasmas, Gil Kenan consegue criar um bom senso de suspense. Ele cobre a tela com um tom avermelhado e sombrio, misturado à invasão de uma nuvem negra sobre a cidade, criando uma atmosfera tensa e prenunciando o perigo que os caça-fantasmas irão enfrentar. Por um breve momento, o filme parece adotar um tom mais sério. Porém, logo em seguida, a introdução das novas mochilas próton acompanhada de uma trilha sonora mais leve acaba rompendo esse clima tenso, ainda que o filme saiba mesclar bem esses diferentes tons.

Funcionando como alívio cômico, o personagem de Nadeem Razmaadi, interpretado por Kumail Nanjiani soa como uma adição descartável. Ainda que tenha alguns momentos engraçados, sua inserção na trama principal parece forçada, principalmente quando a narrativa tenta integrá-lo de forma mais substantiva à trama principal. Entretanto, o maior problema do filme reside no excesso de diálogos expositivos. Os personagens explicam detalhadamente o funcionamento do novo laboratório, os métodos de aprisionamento dos fantasmas e até mesmo a natureza do vilão e seus objetivos. Essa overdose de informações acaba se tornando extremamente enfadonha, quebrando diversas vezes o ritmo estabelecido pelo filme. É como se o filme não funcionasse pelas ações repetitivas em relação aos anteriores, e precisasse apelar para uma “história diferente/complexa” para se diferenciar dos demais.

No geral, “Ghostbusters: Apocalipse de Gelo” falha em trazer novidades significativas, optando por repetir diversos elementos já vistos nos filmes anteriores da franquia. Embora o longa flerte com algumas ideias interessantes, como a exploração do drama adolescente da personagem Phoebe, ele nunca se aprofunda de fato nesses aspectos. Em vez disso, o filme se mantém em uma zona de conforto, sem se arriscar ou tentar algo verdadeiramente diferente, resultando em uma experiência cinematográfica esquecível.


Filme: Ghostbusters: Apocalipse de Gelo (Ghostbusters: Frozen Empire)
Elenco: Mckenna Grace, Paul Rudd, Carrie Coon, Finn Wolfhard, Dan Aykroyd, Kumail Nanjiani, Patton Oswalt, Celeste O’Connor, Logan Kim, Emily Alyn Lind, James Acaster, Bill Murray, Ernie Hudson, Annie Potts, William Atherton, Shelley Williams E Chris Tummings.
Direção: Gil Kenan
Roteiro: Jason Reitman E Gil Kenan.
Produção: EUA
Ano: 2024
Gênero: Comédia, Aventura
Sinopse: A família Spengler retorna ao local onde tudo começou – o icônico quartel de bombeiros da cidade de Nova York – para se unir aos Caça-Fantasmas originais, que agora mantêm um laboratório de pesquisa top secret para levar o combate aos fantasmas a um novo patamar. Porém, quando a descoberta de um artefato antigo libera uma força maligna, os Caça-Fantasmas, tanto os novos quanto os antigos, precisam unir forças para proteger seu lar e salvar o mundo de uma segunda Era do Gelo.
Classificação: 12 anos
Distribuidor: Sony Pictures
Streaming: Indisponível
Nota: 5,0

Sobre o Autor

Share

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *