CRÍTICA – SALTBURN

CRÍTICA – SALTBURN

Emerald Fennell já mostrou seu talento ganhando o Oscar de Melhor Roteiro Original por Bela Vingança. Algo que poderia ter sido sorte de principiante, mas que, ela provou o contrário com Saltburn, mesmo batendo nas mesmas teclas. Assim como seu primeiro longa, Saltburn é ousado, de humor ácido e obsessivo, mas peca por se achar mais desaforado e perspicaz do que realmente é, com uma reviravolta não tão surpreendente, assim como no filme protagonizado Carey Mulligan. Cai no mesmo que lugar que certos filmes do M. Night Shyamalan. 

A trama acompanha o desenrolar de uma amizade entre Felix, um herdeiro da aristocracia britânica, e Oliver, de origem mais humilde, na Universidade de Oxford. Com as férias de verão, Félix decide levar seu amigo para a mansão de sua família em Saltburn, onde o enredo realmente se desenrola. É nesse momento que o filme traça uma trajetória mais intensa de thriller, como se a todo momento uma bomba estivesse prestes a explodir. E realmente podemos sentir essa tensão e essa estranheza, afinal, acompanhamos tudo pela perspectiva de Oliver, que é um estranho tentando se adaptar a realidade luxuosa e burguesa da mansão. E, nesse caso, é aonde o filme brilha. Essa interação entre os familiares de Felix e Oliver é hilária! Os diálogos partem de um humor absurdo e satírico sobre a futilidade burguesa, que é de gargalhar. É difícil alguém escrever cenas que retratam tão bem o sentimento de vergonha alheia como nesse filme.

É impossível falar de Saltburn sem falar das atuações. Essa estranha interação entre os personagens se dá por conta da química do elenco. Barry Keoghan se joga de cabeça no protagonista e arrebata. Jacob Elordi é mesmo fascinante. Impossível não querer desvendar Felix, assim como Oliver. Mas, com certeza, Rosamund Pike rouba toda e qualquer cena que ela aparece! Não é como se não soubéssemos disso, afinal ela já se provou uma atriz talentosíssima diversas vezes, entretanto ela precisa urgentemente fazer mais comédia. O humor soa tão natural nela! É divertidíssimo acompanhar essa mulher riquíssima e elegante falando as coisas mais estapafúrdias e inimagináveis. 

No geral, é um filme ousado. As cenas são marcantes e o humor é misturado com um erotismo perverso. Algo que, para mim, assemelha-se com Segundas Intenções, só que mais bizarro. Querendo ou não, algumas cenas ficarão na sua cabeça. Cenas essas que fazem Oliver parecer com um vampiro, literalmente. Ele suga a energia vital dessa família (de diversas maneiras). E esses simbolismos e alegorias são icônicos e mega pop! As roupas da festa, por exemplo, já estão sendo replicadas no TikTok. 

O design visual do filme é maravilhoso. A fotografia linda, os cenários perfeitos e um figurino ao mesmo tempo que elegante, fantasioso e nostálgico. Cria-se um universo próprio, com suas verossimilhanças, que é dramático e fashion. Universo esse que a trilha sonora espetacular ajuda a construir brilhantemente. Eu, particularmente, já até baixei a trilha sonora no meu celular. Não à toa, Murder On The Dancefloor, de Sophie Ellis-Bextor também está sendo revivida em vários edits do TikTok.

Para mim, o grande pecado de Saltburn é a resolução. Existe uma vontade de oferecer respostas mastigadas e produzir reviravoltas chocantes desnecessariamente. Isso só enfraquece todas as relações construídas ao longo do filme. Relações essas que eram interessantes de acompanhar. Uma horas uns eram a caça e outra hora o caçador. Esse jogo de poder se perde em explicações apressadas e simplistas. Usar flashbacks rápidos para mostrar o que não foi dito é tão previsível! Esperava um pouco mais de criatividade. Porém, seria injusto não aclamar a cena final de dança. Barry Keoghan se jogou de uma maneira contagiante! Para mim, já é uma cena emblemática da cultura pop atual (apesar de achar o teatro de bonecos bem literal também).

Nesse sentido, Saltburn é uma obra controversa. Intensa e grotesca, mas ao mesmo tempo fascinante. Acho que todos nós temos um certo fascínio ao erotismo e aos jogos de poder, assim como Emerald Fennell. Mais uma vez, ela faz um filme cativante, super pop, com diálogos interessantíssimos, mas com malabarismos desnecessários no final. O choque pelo choque, o que prejudica o desenvolvimento do roteiro e o torna pretensioso. 

Filme: Saltburn
Elenco: Barry Kheogan, Jacob Elordi, Archie Madekwe, Paul Rhys, Richard E. Grant, Rosamund Pike, Carey Mulligan, Alison Oliver, Sadie Soverall, Millie Kent
Direção: Emerald Fennell
Roteiro: Emerald Fennell
Produção: Estados Unidos, Reino Unido
Ano: 2023
Gênero: Comédia, Drama, Suspense
Sinopse: Saltburn conta a história de Oliver, um jovem estudante da Universidade de Oxford que se vê atraído para o mundo de seu colega de classe, Felix, depois de ser convidado para passar um verão inesquecível com sua família excêntrica.
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Warner Bros Pictures
Streaming: Prime Video
Nota: 7,5

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