CRÍTICA – UMA VIDA: A HISTÓRIA DE NICHOLAS WINTON

CRÍTICA – UMA VIDA: A HISTÓRIA DE NICHOLAS WINTON

A grande força de Uma Vida está na capacidade de nos emocionar intensamente. Isso se deve tanto por sua história quanto pela atuação comovente de Anthony Hopkins. O filme aborda a vida de Nicholas Winton interpretado por Johnny Flynn na juventude e por Hopkins na velhice, uma pessoa muito altruísta que passou a vida se voluntariando em diversas causas sociais. Mesmo idoso, ele ainda é movido com muito afinco pela vontade de ajudar os outros como se ainda não tivesse feito o suficiente em vida. No entanto, Nicholas já fez algo de enorme relevância social: salvar a vida de 669 crianças judias durante a Segunda Guerra Mundial, porém ele não considera esse grande feito um sucesso. Por meio da excelente atuação de Hopkins é perceptível como Nicholas sente culpa por não ter conseguido salvar mais vidas e como não consegue se afastar dessas memórias do passado. UMA VIDA: A HISTÓRIA DE NICHOLAS WINTON

Esses sentimentos em relação ao passado são apresentados pelo filme nas cenas iniciais por meio de hábitos e detalhes sobre a personagem. Para retratar a forma que Nicholas está preso ao passado, o filme mostra como a personagem acumula objetos: desde elásticos gastos até documentos que não precisam mais ser arquivados. Somado a isso, nos primeiros planos do filme nos é mostrado como Winton está preso ao passado relacionado ao resgate dos refugiados da Segunda Guerra Mundial quando vemos Nicholas observar com muita atenção e cuidado cada uma das fotos que tirou das crianças, tanto das que salvou quanto das que foram perdidas. Esse é um movimento repetido por ele mais de uma vez no filme e, assim, percebemos como esse hábito de revisitar o passado carrega muita tristeza e dor para ele. Dessa forma, conseguimos sentir o peso que isso causa em sua vida.

Com isso, cenas como, por exemplo, quando Nicky chora após reencontrar uma das vidas que salvou carregam um peso emocional ainda maior, já que conhecemos a dor de Nicholas e, assim, ao receber o carinho das vidas que salvou a emoção em tela representada por Hopkins chega até o espectador como o baque de uma onda do mar em um dia quente. Ao mesmo tempo em que estamos felizes, assim como Nicholas, somos arrebatados pelo choque e esse mix de sensações se dissolve em lágrimas.

Outra cena que para mim foi muito intensa é a cena final em que vemos a família de Nicholas se unir a família das vidas que ele resgatou se divertindo na piscina de sua casa. Um retrato de felicidade, mas o que me fez chorar foi um detalhe na atuação de Hopkins que demonstrava seu carinho e instinto protetor para com Vera, uma das que resgatou, ao fazer menção de segurá-la com medo que ela caísse na piscina e pudesse se machucar. Esse pequeno gesto foi capaz de me fazer cair em lágrimas, pois, por mais simples que seja, representa muito bem essa história e personagem. Assim, consegue emocionar ao nos fazer lembrar de todas as dores vividas por Nicholas até chegar nesse momento do reencontro em que pode finalmente colher os felizes frutos do seu ato heroico.

Esse é um filme que nos comove muitíssimo e isso é resultado de um roteiro excelente, ótimas atuações e uma direção que soube trabalhar muito bem com esse material. Por meio de “foreshadowings”¹ a narrativa se desenrola com muita fluidez e, assim, situações relacionadas a vida presente de Nicholas se desenrolam com uma maior naturalidade sem causar estranheza no espectador. Desse modo, somos conduzidos sem questionar o que acontece em tela, nos permitindo sentir todas as emoções propostas pelo filme. Essa característica narrativa e como ela afeta quem assiste, demonstra como a direção teve um papel importante ao guiar essa produção. James Hawes faz um excelente trabalho ao reger esse filme conduzindo muitíssimo bem todos os setores da produção. Assim, o elenco, o roteiro, a trilha sonora, o design de som e o design de produção conseguiram brilhar por meio de um enredo tão bem construído. Afinal, quando um filme é bem dirigido, todos os outros setores conseguem desenvolver um trabalho muito melhor do que em condições desfavoráveis, pois, quando o diretor conhece muito bem a história que conta, consegue expor suas intenções e, assim, todos que trabalham na produção conseguem dar resultados como os que vemos nesse filme.

Com tudo isso, afirmo que esse é um dos filmes que mais me emocionou no cinema nesse ano. É imperdível assisti-lo, pois é um dos trabalhos mais lindos da carreira de Anthony Hopkins. Chorei assistindo o filme na sala de cinema e choro novamente relembrando essas cenas tão marcantes que carregam o peso e a dor da guerra sem precisar mostrar de forma gráfica os seus horrores. Assim, o filme consegue tocar na ferida aberta de todos nós, quando o assunto é as atrocidades da 2ª Guerra Mundial, enquanto nos cura contando uma história sobre uma pessoa que escolheu o amor acima do ódio. Uma Vida acaba ressoando na audiência atual por meio dessa mensagem, pois começamos a conviver cada vez mais com noticias de guerra. Em momentos como os atuais, histórias como essa são de grande importância para nos lembrar da humanidade que ainda vive em nós.

 

Glossário:

1 – “foreshadowings” é quando se dá indícios sobre um acontecimento futuro por pequenas menções relacionadas ao que está por vir


Filme: One Life (Uma Vida – A História de Nicholas Winton).
Elenco: Anthony Hopkins, Johnny Flynn e Helena Bonham Carter
Direção: James Hawes.
Roteiro: Lucinda Coxon, Nick Drake e Barbara Winton.
Produção: Reino Unido.
Ano: 2023.
Gênero: Biografia, Drama e História.
Sinopse: O filme acompanha o humanitário britânico Nicholas Winton, que ajudou a salvar centenas de crianças dos nazistas às vésperas da Segunda Guerra Mundial.
Classificação: 12 anos.
Distribuidor: Diamond Films.
Streaming: Indisponível.
Nota9,5

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