CRÍTICA – MONEYBOYS

CRÍTICA – MONEYBOYS

A temática “amor e crime” é abordada no cinema há bastante tempo. Filmes que se encaixam na “categoria” LGBT+, principalmente, utilizam muito esse recurso ao contar suas histórias. Moneyboys (2021), filme de estreia do diretor e roteirista chinês-austríaco C.B. Yi, explora, de certa forma, esse tipo de narrativa. Em Moneyboys, acompanhamos o protagonista Fei, um garoto de programa vivendo perigosamente na China, uma vez que a prostituição é considerada crime e a homossexualidade é vista com maus olhos pela sociedade conservadora do país.

Logo nos primeiros minutos de Moneyboys, assistimos a uma tragédia se abater na vida de Fei (Kai Ko). Nessa pequena introdução, somos apresentados ao seu modo de vida. Vivendo como um garoto de programa na cidade, o jovem rapaz vive entre seus clientes regulares e seu namorado. Em cerca de dez minutos – talvez – vemos seu pequeno mundo desabar para então o título do filme ser exibido na tela e nos transportar para cinco anos mais tarde na vida de Fei.

O conflito a ser estabelecido no filme está entre a forma de sustento que este personagem “escolheu” e a honra de sua família. Ao mesmo tempo em que se beneficiam do dinheiro que recebem das mãos de Fei regularmente, sua família, provinda de um pequeno vilarejo e vivendo nos moldes tradicionais, não aceita sua profissão e seu modo de vida.

De muitas maneiras, o filme de C.B. Yi tenta, ao longo de seu enredo, apresentar seu protagonista de maneira a elevá-lo a uma posição não de herói, mas de um homem comum, porém, muitas vezes, não fica clara nessa representação o que de fato move Fei. Sua vida, cercada de festas e um glamour de mentira entre seus amigos e colegas de profissão é, na verdade, bastante entediante, não havendo, de fato, muito espaço para criarmos empatia com o personagem.

Seus problemas começam quando um vizinho de seu vilarejo, Long (Bai Yu Fan) – que nutre uma admiração quase obsessiva por Fei – se faz presente em seu caminho, busca seguir seus passos a fim de uma “mudança” de vida.

Moneyboys apresenta a vida dos garotos de programa de uma forma bastante “limpa”. Ainda que eu acredite que seja melhor para o espectador não ser submetido à violência que existe dentro deste meio, sinto que há pouca realidade na apresentação do tema. É claro que o filme de C.B. Yi é ousado por entregar uma narrativa focada não somente em personagens homossexuais, mas que trabalham como garotos de programa, um grande tabu nos países da Ásia.

Dito isso, seguimos com alguns pontos negativos da obra. Infelizmente, não dá para sentir que há uma unidade no roteiro de Moneyboys. Há, sim, uma progressão na narrativa que envolve Fei e Long, porém, em muitos momentos o filme se torna cansativo de acompanhar. Um dos principais problemas está na composição do protagonista, que carece de carisma. Entendo que uma de suas principais características está em sua passividade em meio às situações que vivencia. Ainda assim, algo falta para a sua completude como personagem principal de um filme.

Há, também, um fato que me perturba enquanto espectadora, que tem seu lugar justamente na homoafetividade deste protagonista. Em sua profissão sua sexualidade não importa, de fato, pois estamos falando de trabalho, ainda que este esteja ligado ao envolvimento direto com pessoas do mesmo gênero. Porém, é no âmbito do relacionamento de Fei com seu namorado que as coisas se tornam um tanto nubladas. Talvez o maior sentimento do protagonista em relação a esse antigo parceiro não esteja relacionado a amor ou algo parecido, mas culpa.

Um ponto positivo na construção de Fei está no fato de que sua forma de cuidar ou de demonstrar seus sentimentos – sejam eles de culpa, gratidão ou mesmo amizade – está no ato de entregar dinheiro às pessoas. Como se esse personagem tivesse sido esvaziado de qualquer ato humano, sua linguagem sentimental está em prover àqueles próximos coisas materiais. Talvez seja essa a única forma ensinada a ele, muito por conta de uma tradição que exige que os homens tomem conta da família. Digo que este é um ponto positivo, pois é um dos poucos momentos em que a personalidade de Fei parece se encaixar dentro da história.

Sobre sua relação com Long, há também bons momentos da dupla em tela. Apesar de levar um certo tempo para nos acostumarmos com a relação incomum entre ambos os personagens. Mais uma vez, assistimos Fei cuidando de outra pessoa quando seu próprio interior desmorona, porém, Long é um personagem muito bem colocado em seu caminho, sua aparição na vida de Fei é importante por diversos motivos e um deles é o de diminuir, ainda que aos poucos, a solidão do protagonista, além de acrescentar alguma leveza aos seus dias sérios e um tanto deprimentes.

Talvez a relação mais bem construída em Moneyboys seja justamente aquela entre Fei e Long. A amizade entre os dois homens traz às suas vidas a liberdade para serem quem eles realmente são. Libertar-se da opressão familiar e de seu preconceito é, talvez, o mote do filme de C.B. Yi. Infelizmente, as coisas demoram um pouco para andar e quando começam a melhorar, não é mais possível puxar o espectador de volta. Mesmo assim, sua última cena é bonita e preenchida de uma esperança que talvez seja vazia, mas ainda assim uma esperança.

Moneyboys estreia nos cinemas brasileiros em 8 de fevereiro.


  Filme: Moneyboys
Elenco: Kai Ko, Bai Yufan, JC Lin, Zeng Meihuizi, Sun Qiheng.
Direção: C.B. Yi
Roteiro: C.B. Yi
Produção: Áustria, Bélgica, França, Taiwan
Ano: 2021
Gênero: Drama
Sinopse: Fei trabalha ilegalmente como garoto de programa para sustentar sua família, mas quando ele percebe que eles estão dispostos a aceitar seu dinheiro, mas não seu modo de vida, ocorre um grande colapso em suas relações. Por meio de seu relacionamento com o teimoso Long, Fei parece capaz de encontrar um novo sopro de vida, mas então encontra Xiaolai, o amor de sua juventude, que o confronta com a culpa de seu passado reprimido.
Classificação: 14 anos
Distribuidor: Pandora Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 5,5

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