CRÍTICA – AS VIRGENS SUICIDAS

CRÍTICA – AS VIRGENS SUICIDAS

As meninas ou A memória as virgens suicidas.

Cinco vidas que nos assombram. Quando finalizei o filme, essa foi uma das primeiras coisas que pensei. 

As cinco loiras misteriosas e, ao mesmo tempo, encantadoras. É assim que temos a história sendo contada, pois, o filme se constrói em memórias — dos tempos passados, do tempo presente e do tempo vindouro. 

O filme conta a história da família Lisbon, que possui cinco filhas e a religiosidade como o grande princípio de tudo. Após algumas tentativas, Cecília (Hanna R. Hall), a filha caçula, comete suicídio. A partir disso, a dinâmica familiar e social de todos é desintegrada. Os pais, James Woods e Kathleen Turner, são vistos como os causadores do problema e culpados pela situação. Apesar de afirmarem que sempre deram seu amor incondicional para Cecília, o assédio da mídia nunca os permitiu paz diante daqueles momentos. E as meninas, são vistas como estranhas, são incompreendidas e tornam-se o tema principal das conversas da vizinhança, dos alunos do colégio, e, mais uma vez, da mídia assediadora que não respeita a integridade delas.

Cecília tinha 13 anos. Lux, 14. Bonnie, 15. Mary, 16. E Therese, 17 anos.

O grupo de meninos, que narram a história, não conhecem as meninas, entretanto, eles imaginam e confabulam tudo que elas são e tudo que elas passam. Eles constroem o imaginário das personagens, assim como nós que os assistimos. Isso porque, nós também não sabemos quem elas são e o que passam, o que temos é o reflexo dos olhares externos e é assim que montamos o nosso olhar e as nossas percepções — sempre através de espelhos.

A depressão é vista de longe, como algo não compreendido, é algo que suscita olhares e penitências. As meninas não expõem quem elas são, essa oportunidade não existe, nem em casa com a família e nem na rua com desconhecidos. Dessa forma, a depressão é algo não comentado, pois, essa possibilidade é ceifada por meio de motivos religiosos e de bisbilhotes. Um paralelo claro com nossa realidade, visto que doenças psicológicas são comumente invisibilizadas, ou transformadas ao ridículo devido à ignorância que ainda ronda nossa sociedade sobre o tema.

Importante enxergar as nuances de como Sofia trabalha tudo isso, pois, o nome do filme já nos indica que cenas fortes irão acontecer na vida daqueles personagens. Entretanto, ao invés de escrachar esses momentos delicados na nossa memória, a diretora opta pela responsabilidade com uma temática tão séria como o suicídio.

A ambientação do filme é completamente idílica e a direção de atores contribui para corroborar esse aspecto. Isso porque, muitas vezes, as ações das irmãs parecem devaneios, os olhares parecem turvos e seus quartos parecem entulhados em mundos que elas nunca alcançarão — porque seus destinos estão aprisionados naquela casa.

A suavidade com a qual somos levados a caminhar por àquelas ruas, onde suas cores são aconchegantes e, ao mesmo tempo, melancólicas, me faz pensar na linha tênue entre o pesado e o sutil. Posso afirmar que é o deleite de um sonho estranhíssimo acompanhar o filme.

A técnica cinematografia não é o fim, é o meio para histórias serem contadas. Dito isto, a estética que Sofia Coppola traz nesse filme é algo alinhado intrinsecamente à história que ela deseja contar. É um sonho melancólico, brilhoso, como os raios de sol, e com baixa saturação, como uma pintura envelhecida. O retrato que a diretora cria é embebido em memórias e melancolia. As meninas morreram naquela casa e nós morreremos sem respostas de quem elas foram.

Verde, azul e branco. Raios de sol e um cigarro apagando. Eu não estava esperando pelo final… Cinco meninas muito conhecidas, porém, completamente anônimas, visto que não sabemos quem elas foram de verdade.



Filme: The Virgin Suicides (As Virgens Suicidas)
Elenco: Hanna R. Hall, Kirsten Dunst, James Woods, Kathleen Turner, A.J. Cook, Chelsea Swain, Leslie Hayman
Direção: Sofia Coppola
Roteiro: Sofia Coppola
Produção: Estados Unidos
Ano: 1999
Gênero: Drama
Sinopse: Durante a década de 70, o filme enfoca os Lisbon, uma família saudável e próspera que vive num bairro de classe média de Michigan. O sr. Lisbon (James Woods) um professor de matemática e sua esposa uma rigorosa religiosa, mãe de cinco atraentes adolescentes, que atraem a atenção dos rapazes da região. Porém, quando Cecília (Hanna R. Hall), de apenas 13 anos, comete suicídio, as relações familiares se decompõem rumo a um crescente isolamento e superproteção das demais filhas, que não podem mais ter qualquer tipo de interação social com rapazes. Mas a proibição apenas atiça ainda mais as garotas a arranjarem meios de burlar as rígidas regras de sua mãe.
Classificação: 12 anos
Distribuidor: Paramount Classics
Streaming: Indisponível
Nota: 9,5

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2 thoughts on “CRÍTICA – AS VIRGENS SUICIDAS

  1. Esse filme é muito bom trata de forma responsável uma temática pesada. E concordo com sua analise, e esse final diz muito sobre o filme, nunca a conheceremos, só soubemos delas, por olhares dos outros.

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